Um dos eventos mais conhecidos na história do futebol, a Invasão Corinthiana ao Maracanã completa 45 anos. No dia 05 de dezembro de 1976 a torcida do Corinthians levou mais de 70 mil torcedores ao Rio de Janeiro, sendo o maior deslocamento de uma torcida para um jogo fora de casa de quem se tem notícia.
Em 1976 o Corinthians caminhava para 23 anos sem uma conquista de expressão. A princípio, aquela semifinal estava sendo encarada como um dos confrontos mais importantes da história do clube. Assim, os dois presidentes dos clubes envolvidos na época travaram narrativas acerca das torcidas. Claro, o saudoso Vicente Matheus sabia do que a Fiel era capaz.
O então presidente do Fluminense, Francisco Horta, havia passado a semana provocando a torcida do Corinthians. Primeiramente, Vicente Matheus traria 70 mil ingressos para São Paulo, o que causou zombaria por parte do lado das laranjeiras. Foi nesse episódio que Francisco Horta proferiu a famosa frase:
“Que os vivos saiam de casa e os mortos saiam das tumbas para torcer pelo Corinthians no Maracanã, porque o Fluminense vai ganhar a partida”.
A viagem para o Rio de Janeiro
Antes de tudo, as trocas de provocações entre os presidentes dos clubes foram de formas descontraídas. A Fiel torcida não mediria esforços para se deslocar até o Rio de janeiro, fazendo com que a polícia e até outras autoridades propusessem uma operação. A princípio a “Operação Corinthians” tinha o objetivo de garantir que a torcida alvinegra se deslocasse em segurança durante os 400km que ligam São Paulo à cidade maravilhosa.
Estima-se que mais de mil ônibus saíram da capital paulista com destino ao Maracanã. Posteriormente e no caminho eram filas e mais filhas, que além dos ônibus, contavam com motos, carros e quase todo tipo de veículos. Além disso, mais de 150 aviões saíram com destino a capital fluminense. A invasão começava.
Assim, a manhã carioca do dia 05 de dezembro de 1976 era preta e branca. A Fiel já estava presente e o Rio de Janeiro via um dos maiores feitos que o futebol já havia presenciado. E aquilo só o corinthiano poderia realizar, com todo amor, carinho e devoção ao Sport Club Corinthians Paulista.
O jogo
Primeiramente, a partida entre Fluminense e Corinthians era válida pela semifinal do Campeonato Brasileiro de 76. O clube paulista enfrentava uma fila de 22 anos sem uma conquista importante a mobilização em torno desse duelo era quase nunca antes vista no futebol.
Era algo especial para o torcedor corinthiano. O Maracanã teve seus portões abertos a partir das 13hrs e logo a Fiel tomava conta das arquibancadas. O Maracanã era preto e branco e gritava CORINTHIANS! O Rio de Janeiro pulsava nas cores do alvinegro, o até então maior estádio do mundo ficava pequeno.
Para decidir a vaga na final, as equipes se enfrentariam em jogo único. O time do Fluminense era estrelado e contava com craques como Rivelino e Carlos Alberto Torres. Rivelino, ídolo do Corinthians, ia enfrentar a massa alvinegra em plena casa do clube que defendia.
Os gols
Os gols daquela partida foram marcados por Carlos Alberto Pintinho pelo Fluminense e por Ruço para o Corinthians. Contudo, o bom jogo que acontecia no primeiro tempo deu lugar ao temporal e a água no segundo tempo. Chovia torrencialmente e o jogo seria amarrado até a disputa dos pênaltis.
Naquela fatídica decisão por pênaltis brilhou a estrela do goleiro Tobias. Na meta alvinegra ele defenderia a cobrança de Rodrigues Neto e Carlos Alberto Torres. Assim, sairia como herói daquela semifinal histórica e marcaria muito aquela ano no clube.
Ficha técnica: Fluminense 1 a 1 Corinthians, 05/12/1976
Fluminense: Renato; Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho, Rodrigues Neto, Carlos Alberto Pintinho, Cléber (Erivelto), Gil, Doval, Rivelino e Dirceu.
Treinador: Mário Travaglini
Corinthians: Tobias, Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo, Wladimir, Givanildo (Basílio), Ruço, Vaguinho, Geraldão (Lance), Neca e Romeu.
Treinador: Duque
Fluminense 1 a 1 Corinthians
Local: Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã);
Árbitro: Saúl Mendes
Público: 146.043 pessoas
Gols: Carlos Alberto Pintinho para o Fluminense e Ruço para o Corinthians
A história sendo contada
Essa semifinal não ficou marcada apenas pelo duelo dentro de campo, mas sim por toda atmosfera que a envolveu. O time carioca tinha um grande esquadrão, sendo estrelado e favorito para avançar. Contudo, prevaleceu a garra, vontade e a força que a Fiel tem para empurrar.
Antes de mais nada, não há registro de outra torcida fazendo algo parecido com o que a Fiel fez em 1976. Ou seja, ficou para a história e certamente será contado enquanto o futebol existir. Da tomada da Via Dutra, passando pelas areias de Copacabana e na arquibancada do Maracanã, o corinthiano foi protagonista. Todavia, era um espetáculo. algo que apenas o torcedor do alvinegro de Parque São Jorge é capaz de fazer.
O escritor, dramaturgo, jornalista, romancista, cronista de futebol e torcedor do Fluminense tentou explicar. Em sua crônica, ele ousou definir aquela loucura:
Uma coisa é certa: não se improvisa uma vitória. Vocês entendem?
Uma vitória tem que ser o lento trabalho das gerações.
Até que, lá um dia, acontece a grande vitória. Ainda digo mais: já estava escrito há seis mil anos, que em um certo domingo, de 1976, teríamos um empate.
Sim, quarenta dias antes do Paraíso estava decidida a batalha entre o Fluminense e o Corinthians.
Ninguém sabia, ninguém desconfiava.
O jogo começou na véspera, quando a Fiel explodiu na cidade.
Durante toda a madrugada, os fanáticos do timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema.
E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela.
Ali, chegavam os corinthianos, aos borbotões.
Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta.A coisa era terrível. Nunca uma torcida invadiu outro estado, com tamanha euforia.
Um turista que, por aqui passasse, havia de anotar no seu caderninho: — “O Rio é uma cidade ocupada”.
Os corinthianos passavam a toda hora e em toda parte.
Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca.
Dizem os idiotas da objetividade que torcida não ganha jogo.
Pois ganha.
Na véspera da partida, a Fiel estava fazendo força em favor do seu time.
mo tarde e tive ocasião de testemunhar a vigília da Fiel.
Um amigo me perguntou: “E se o Corinthians perder?”
O Fluminense era mais time.
Portanto, estavam certos, e maravilhosamente certos os corinthianos, quando faziam um prévio carnaval.
Esse carnaval não parou.
De manhã, acordei num clima paulista.
Nas ruas, as pessoas não entendiam e até se assustavam.
Expliquei tudo a uma senhora, gorda e patusca.
Expliquei-lhe que o Tricolor era no final do Brasileiro, o único carioca.
Não cabe aqui falar em técnico.
O que influi e decidiu o jogo foi a torcida.
A torcida empurrou o time para o empate.
A torcida não parou de incitar.
Vocês percebem?
Sim, Nelson Rodrigues. A torcida do Corinthians ganha jogo. Não só isso, ela proporciona coisas que apenas ela é capaz de fazer. Sofrendo ou sorrindo, o Corinthians tem no seu torcedor o seu porto seguro. A Invasão de 1976 foi um de muitos capítulos que Fiel protagonizou.
Por fim, domingo dia 05 de dezembro completará 45 anos da Invasão. A memória desse acontecimento da nossa história deve ser sempre retomada, para que mais gerações mantenham vivo esse feito do corinthianismo. Esse episódio ficará eternamente em nossos corações.
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