Há quatro anos, o Corinthians conquistava o que, para mim, foi um dos títulos mais importantes de sua história recente. Talvez não o mais expressivo, mas definitivamente um dos mais importantes. Em oito de abril de 2018, o Corinthians levantou, dentro do Allianz Parque, a taça de campeão paulista – o segundo consecutivo. Em dois jogos cheios de polêmicas, o Timão provou ali algo que todo mundo já sabia: ser Corinthians vai além!
Na época, eu trabalhava numa redação de jornal que ostentava um total de dois corinthianos: eu e um dos fotográfos. Ao meu lado na baia, sentavam-se dois palmeirenses. Embora fossemos essencialmente rivais, nossas conversas sempre foram bordadas em cordialidade, mas me perdia quando o assunto era derby. Não estava acostumada a ser “minoria futebolística” em um ambiente. Entretanto, a amizade ali sempre falou mais alto.
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A aposta
Eis que, quando Corinthians e Palmeiras se classificam para a final, nasce uma conversa na baia: quem perder, precisará postar uma foto com a camisa do rival. Topei, mas em seguida me arrependi. Lembro de pensar: o que vão achar de mim com uma camisa verde?! Afinal, em casa, a própria cor é intrissicamente banida. Mas levei adiante pela brincadeira, sem sofrer com o que poderia vir a ser.
Porém, nos dois jogos, senti uma grande agonia. Principalmente diante de todas as polêmicas desnecessárias que cercaram aquela partida. Sobre elas, todos já falaram – seria chover no molhado. O que valia, naquele momento, era o que viria a seguir. Dentro da casa do adversário, a pressão é sempre maior; a torcida pesa em todos os jogos, mas o grito do derby é diferente. Até hoje, gostaria de ser uma mosca para poder ter visto aquele espetáculo de perto.
Era dia de Corinthians
Mas a vida nos prega peças e, no dia do segundo jogo, fui pega de surpresa: tinha o casamento no sábado seguinte, e precisaria ir atrás de algumas pendências de vestuário. Não poderia esperar; não haveria tempo! Mas e o jogo? Quem sou eu para perder um derby, quanto mais em final de campeonato?! Fui, acompanhada do namorado são paulino, mas ciente de que tínhamos hora para voltar. Era dia de Corinthians!
Mais uma vez, outra peça da vida. Lojas lotadas, filas em provadores e, obviamente, um tumulto desnecessário nos corredores. Não conseguia entender; não era época festiva, era só um domingo normal de abril. Porém, era só um domingo normal para quem não vivia a expectativa daquele jogo. Para onde quer que você olhasse, havia um de nós – na camisa, nos bonés, até nos chinelos! Estávamos em peso, e todos contando os minutos para a partida decisiva.
Já eu, olhava para o relógio impaciente. Analisava a escalação, comentava as peças e torcia para que o relógio voasse. Entre escolhas de roupas e palpites, dava uma espiada nas lojas de televisão que já começavam a mostrar o pré-jogo. Via o estádio adversário e pensava: o que será de nós? A resposta, afinal, vinha em seguida: será Corinthians! Sempre foi e sempre será Corinthians.
Começa o jogo
Meus planos haviam falhado, mas agora era tarde. Precisava de uma forma de acompanhar o jogo. Entre espiadas no “minuto a minuto” e olhadas rápidas pelas vitrines de eletrodomésticos, vi Rodriguinho abrir o placar no primeiro lance do jogo. Comemorei internamente, mas comemorei com afinco! Vi os Palmeirenses brigarem, o Corinthians se defender e o coração disparar cada vez que uma atualização surgia.
Pouco depois dos primeiros 15 minutos da segunda etapa, voltamos para casa. Acompanhei a polêmica do “pênalti-que-não-foi-pênalti” do carro, e gritei loucamente quando o juiz finalmente anulou a marcação. Aproveito a oportunidade para me desculpar a qualquer um que tenha presenciado a cena de seus próprios carros. Era necessário! Não seríamos superados no grito!
Os pênaltis
Final de jogo, um a um no agregado. Pênaltis. Particulamente falando, eu amo cobranças de pênaltis – quando elas não envolvem ao Corinthians. Verdade seja dita, não sou e jamais saberei ser uma torcedora quieta; não faz o meu estilo. O Corinthians desperta em mim uma animosidade e um ímpeto que não existe quando o Timão não está em campo, e eu só sei expressar tudo isso colocando para fora.
Nas cobranças, o alvinegro foi perfeito; mas o alviverde não teve o mesmo resultado. Ouvi Dudu perder o pênalti pela rádio, e acompanhei a descrença dos comentaristas – afinal, aquele era O Dudu! Como poderia perder aquela cobrança?! Pois perdeu. Depois dele, Lucas Lima – a promessa alviverde que se mantem promessa até hoje. Naquele momento, vi a vantagem ao nosso lado e sabia que era o momento.
Maycon, do Corinthians!
Maycon era um garoto. Talentoso, habilidoso e apaixonado pelo Corinthians, mas era um garoto. Assumir a responsabilidade daquela camisa oito, que já vestiu sócrate e, mais recentemente, Renato Augusto, já era um alto peso para o rapaz. Pegar a bola no pênalti que poderia definir um título na casa do arquirival do Corinthians, na primeira final disputada na casa nova deles, era algo maior ainda.
Mas ele foi para a bola confiante. Olhou fundo nos olhos do goleiro e parecia conversar com a bola. Lembro-me das palavras do comentarista da rádio: “Maycon fez amizade com a bola, e pode viver com ela um dos momentos mais importantes de sua carreira”. E fez! Bateu com força, decidido, com paixão; bateu como Corinthians! Mesmo de longe, a torcida vibrava, e essa vibração transparecia nos jogadores. Mais uma vez campeões, 29 vezes campeão Paulista!
O pós-jogo do Corinthians
Depois disso, o resto é história. Houve disputa fora de campo, reclamações chorosas dos palmeirenses e, principalmente, a célebre denominação do agora ex-presidente alviverde: aquele, era o Paulistinha. Pois que fosse! Era nosso. Comprovado judicialmente, era nosso! E ali, na casa deles, nós marcávamos o nosso nome na história daquele estádio: o Timão foi o primeiro campeão no Allianz Parque. Vendo por este lado, foram dois títulos em um dia só.
A importância daquele caneco, levantado orgulhosamente pelo paredão que foi Cássio naquele campeonato, era mais do que uma final de campeonato. Era a lavagem da alma corinthiana personificada em uma única cena. Afinal, apesar da disputada acirrada durante todas as fases do Campeonato Paulista, a mídia dava a vitória alviverde como certa. Faltou apenas uma coisa: aqui, é Corinthians!
O meu pós-jogo
Na segunda-feira, entrei na redação com a camisa do Corinthians na mochila. Não sabia se encontraria resistência para cumprir a aposta, mas estava pronta para exigir meus direitos de ganhadora. Não foi necessário! Como disse, nossa relação naquela baia era bordada na cordialidade, e estes palmeirenses, em específico, entendiam a derrota sem churumelas, como já dizia o outro.
Meu colega de trabalho vestiu a camisa. Posou para a foto apontando para o símbolo do Timão. Hoje, guardo a foto com muito carinho, pois para mim ela representa o peso da camisa do Corinthians. É mais do que um título, é sobre se superar e se entregar. Ser Corinthians vai além das vitórias ou das derrotas, é claro – vai na direção da história! Embora ainda não exista definição no dicionário para isso, eu gosto da frase: isso é ser Corinthians!
Hoje tudo isso é história e as fases são diferentes, mas ainda me lembro do #PaulistinhaDay com grande carinho. E continuarei a fazê-lo para sempre! É uma história que eu gosto de contar, e que se tornou impossível de não repassar os fotos sorrindo. Mais do que uma vitória sobre o maior rival dentro da casa deles, aquele virou um símbolo do “corinthianismo”. Aquilo, foi ser Corinthians!