Neste texto, a arbitragem não sera mencionada. Também neste texto, a postura de Cantillo não será discutida. Este texto, porém, tem como intuito principal tratar, portanto, do futebol apresentado pelo Corinthians no jogo de ontem. Em empate com gosto de vitória contra o Boca Juniors, dentro da mítica La Bombonera, o Timão mostrou exatamente daquilo que é feito. O Corinthians é feito de coração.
Dentro do ambiente hostil do estádio, povoado, portanto, por uma torcida forte e quase paralizante, o Corinthians foi grande. Como tinha que ser. Com uma estratégia diferente para cada uma das etapas da partida, Vitor Pereira vendeu sua ideia aos jogadores: não é preciso se desgastar. O futebol precisaria, entretanto, ser apresentado com a intensidade que a torcida se acostumou a ver.
Porém, foi na intensidade que o Corinthians tropeçou. Melhor do que o Boca Juniors, tanto ofensiva quanto defensivamente, o Timão precisava manter o controle. E este, afinal, foi o grande pecado da equipe corinthiana. O Corinthians é feito de coração, e ontem sofreu com o excesso dele. Ao cair nas provocações argentinas e ceder ao único grito da torcida, o time se perdeu em seus próprios passos e sofreu mais do que precisava.
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A magia nos pés do garoto
Du Queiroz é destaque no Corinthians desde que começou a aparecer entre os jogadores relacionados. Rápido, de grande força física e hábil na linha de marcação, o volante ganhou as glórias com Vitor Pereira. Porém, mais do que adquirir as glórias, é importante mantê-las. Hoje, ao lado de Maycon, Du Queiroz vive sua melhor fase em sua breve carreira profissional.
Ontem, o Corinthians tinha um ponto a mais a seu favor. Para o Timão, a Bombonera é mágica; traz a tona o melhor e o pior de cada jogador. Porém, para os jovens jogadores, a magia tem premissa positiva. Em 2012, Romarinho calou o estádio argentino ao entrar em campo e, dois minutos depois, bater para encobrir o goleiro e marcar o seu contra o Boca Juniors.
Em 2022, ano dedicado a reviver este “ano dourado”, o Corinthians ainda não tinha encontrado o garoto que daria continuidade a esta magia. Mas ali ele estava. Du Queiroz puxou jogada de velocidade e garantiu o escanteio para o Corinthians. Após a cobrança, a bola sobre no seu pé, ele tabela acidentalmente com Raul Gustavo e bate rasteiro. Fraco, até. Porém, para um goleiro adiantado e sem ângulo, seu chute foi matador. Du abre o placar.
Mas há mais para se comemorar do que a marcação. Du Queiroz marcou, finalmente, seu primeiro gol com a camisa do Corinthians. Abriu sua contagem com estilo, no “jogo da vida” do time que tanto parece amar. Sua emoção foi palpável. Seu grito foi ouvido nos lares corinthianos de todo o mundo. Era um grito, entretanto, de alívio; de felicidade. Du Queiroz estava liberto! E, mais do que isso, libertou o grito na garganta do torcedor – que o aplaudiu.
O Corinthians nas quatro linhas
Du Queiroz, porém, não jogou sozinho. Os primeiros 46 minutos de jogo, portanto, provaram isso. É possível dizer que o primeiro tempo do Corinthians beirou o ideal. Saídas de bolas precisas, poucos erros de passe, precisão nos lançamentos e chegadas conclusivas na área. Na defesa, solidificada, João Victor e Raul Gustavo mostraram porquê assumem as posições principais, e o experiente Robson mostrou que quer aprender com quem já estava ali.
Não a toa, o Timão controlou a primeira etapa. Errou pouco, afinal, e deu poucos espaços aos seus adversários. Porém, nem tudo são rosas. Foi preciso um erro – um equívoco bem aproveitado pelo Boca Juniors. Maycon, mais baixo do que seus adversários, não acompanhou o cabeceio na área, e a bola sobra nos pés de Benedetto. Raul Gustavo não marca, João Victor não consegue salvar e Cássio, vencido pelos erros individuais, pouco pode fazer.
Foi um jogo de 46 minutos
Mais uma vez, o Corinthians pecou na bola aérea. Mas, ainda assim, tinha nas mãos o jogo. O ritmo da partida era seu, e os adversários dançavam conforme a sua música. Porém, como dito, nem tudo são rosas. Para o segundo tempo, o ataque corinthiano já não correspondia ao ritmo de jogo. Jô, cansado de tentar acompanhar a velocidade de seus companheiros, focou no pivô e pouco atacou. Willian sentiu o ritmo, e Gustavo Silva não conseguiu acompanhar.
Gustavo foi, inclusive, um dos grandes defeitos do time de ontem. Pouco fez. Sua velocidade decaía conforme o jogo se desenrolava, e foram muitos os passes e cruzamentos errados na noite de ontem. Há quem culpe sua condição física, o tempo frio da Bombonera ou qualquer outro fator. A questão, porém, é mais simples: Gustavo Silva ainda não se adaptou. Não tem apresentado bom futebol e, ontem, dificultou o jogo corinthiano.
Na segunda etapa, Vitor Pereira preferiu apostar na solidez de sua defesa, e fez isso muito bem! Em mais uma noite inspirada, Fábio Santos comandou as ações de jogo e se mostrou, novamente, louvável. Cássio fez o mesmo! Com a tranquilidade e a experiência de quem conhece o estádio, fechou o gol e mostrou porque é o grande capitão. É preciso, portanto, elevar o trabalho destes dois jogadores. Hoje, são fundamentais para o Corinthians!
Resultado sacramentado. O empate, para o Corinthians, era positivo. Está mais perto da classificação do que estava antes de entrar em campo, e depende unicamente de si para ser o primeiro do grupo. Mais do que isso, porém, conseguiu levar a decisão para sua casa. O jogo contra o Always Ready, verdadeiro carrasco do Timão na fase de grupos da Libertadores, será decisivo, e o Corinthians sabe o que precisa fazer.
Senhoras e senhores, o Corinthians tem um técnico
Vitor Pereira entrou em campo ontem com uma escalação de deixar os cabelos em pé. Como ele pretende jogar na casa deste poderoso adversário sem um armador?! Deixar apenas dois volantes no meio de campo soa arriscado. E foi. Foi um grande risco. Analisando, portanto, a situação, abrir mão de Renato Augusto ou Giuliano na partida poderia custar caro. Mas é preciso olhar o Corinthians com os olhos do VP.
O treinador entendeu, ao acompanhar o jogo realizado na Neo Química Arena, que os argentinos possuiam uma estratégia diferente. O Corinthians não poderia se fechar e chamá-los para o jogo, mas era necessário contê-los. Com Maycon e Du Queiroz, ele apostou na criação de jogadas de velocidade e na “corpulência” dos dois para segurar o meio de campo. Deu certo! No primeiro tempo, a única alternativa do Boca foram os lançamentos ao Benedetto.
Estes lançamentos, porém, não surtiriam o efeito desejado. Isso porque, obviamente, VP já tinha um plano. Ele entendeu que João Victor, Raul Gustavo e Robson eram, portanto, muito mais rápidos que os adversários. Assim sendo, as bolas longas poderiam ser facilmente interceptadas antes de levarem qualquer perigo a meta de Cássio. E isso funcionou. Tanto é que, no primeiro tempo, apenas duas jogadas do Boca assustaram o Corinthians.
No meio do segundo tempo, suas trocas foram majoritariamente inteligentes. Trazer Renato Augusto significava acalmar os ânimos e conter o ímpeto adversário, enquanto Junior Moraes poderia aumentar a velocidade do meio para frente. Na parte de tráz do campo, portanto, João Victor poderia atuar como lateral direito e se aproveitar mais uma vez de sua velocidade. É verdade que o Corinthians pouco atacou, mas conseguiu manter a defesa muito bem.
Senhoras e senhores, o Corinthians tem um torcedor
Nas entrevistas coletivas, Vitor Pereira soa como alguém saído das arquibancadas. O treinador, portanto, exige intensidade, força, garra, respeito àqueles que saíram de suas casas para assistir ao jogo. Fala-se de um treinador que valoriza, acima de tudo, seu torcedor. Parece que, aliás, que Vitor Pereira conhece o peso da camisa do Corinthians desde muito cedo. Quase como se, apesar da nacionalidade portuguesa, a trouxesse de berço.
Seria ingenuidade, porém, acreditar nisso. Mas é inegável, entretanto, dizer que Vitor Pereira está encantado. Pela torcida, principalmente. O português captou rapidamente a essência do que é “ser Corinthians” e se empenha diariamente em transmitir isso aos atletas e comissão técnica. Justamente por isso, mais do que respeitar, VP demanda respeito ao manto corinthiano.
Isso explica sua reação ontem durante confusão generalizada. Quando os jogadores de Corinthians e Boca Juniors começaram a se enfrentar em campo, o juiz decidiu intervir. Porém, parecia ver apenas jogadores de branco. Vitor Pereira assume sua posição dentro de campo, conversa pessoalmente com o juiz e orienta seus jogadores. Sem medo. Sem pestanejar. Vitor Pereira assumiu ali o seu status de “corinthiano, maloqueiro e sofredor”. Graças a Deus.
Eis a grande raridade do futebol, aliás. Não é só sobre identificação, mas sim sobre tornar-se aquilo que você defende. Ninguém sabe o que acontecerá no futuro, por isso é difícil prever o que será da relação VP/Corinthians depois do fim da temporada. Mas sua reação ontem, seu empenho e sua força marcaram história, e a cena sem dúvida ficará marcada para sempre no coração daqueles que a assistiram.
O empate com gosto de vitória
Pode-se dizer com grande certeza que Corinthians e Boca Juniors é, hoje, o maior clássico sulamericano. Justamente por isso, empatar fora de casa é um resultado positivo. Apesar de cambalear na temporada, o Boca Juniors sempre será um adversário de força extrema. Mas é inegável: o Corinthians soube jogar. Apesar de ter tido pouquíssima posse de bola no segundo tempo, controlou o jogo para levar o ponto para São Paulo.
Como dito no início deste texto, porém, o Corinthians pecou, portanto, pelo excesso de coração. Perdeu-se na confusão criada propositalmente pelo Boca Juniors para desestabilizá-los. O Corinthians cedeu, mas não deveria. O que é importante ressaltar, porém, é que, após a confusão, os jogadores reassumiram seu controle e seu bravo posicionamento. O jogo continuava a acontecer, e era preciso jogá-lo da melhor forma possível.
Com um a menos, Fábio Santos assumiu, portanto, a função de Cantillo sem deixar seus objetivos defensivos para trás. Foi, sem dúvida, o melhor em campo. O Corinthians soube sofrer. Há quem diga que foi “copeiro”. Mas a melhor definição para o jogo é que o Corinthians foi Corinthians. O time mostrou a que veio e deixou claro que não sonha pequeno. Vai em busca de mais, como deve ser. Porém, mais do que isso, mostrou vontade de ir além!