O Corinthians ontem, na partida contra o Always Ready, não olhou para o adversário. Apesar da clara noção que tinha da importância do jogo, o time, entretanto, não entendeu seu oponente. Pode-se dizer, sem dúvidas, que o Always Ready, enquanto instituição, não tinha nada a perder com aquela partida. O time reserva, porém, tinha muito a ganhar com o que quer que acontecesse dentro da Neo Química Arena.
O futebol é um jogo que extravasa as linhas de jogo. Fala-se de um esporte que vai além dos treinos, das partidas, das contratações e das táticas de jogo. Esta, aliás, é a maior e mais absoluta das verdades do futebol. Este, na verdade, é um esporte psicológico. O time mais pronto vence, claro, mas essa frase não diz respeito apenas ao jogo. Ela fala, portanto, de ter a “cabeça no lugar”.
Ontem, o Corinthians não soube qual era o seu lugar. Dominante, mais bem preparado no que diz respeito ao esporte, melhor armado e bem posicionado, o Corinthians sabia que a vitória era a única coisa que importava. Porém, apesar de todos os artefatos esportivos, o Corinthians não soube qual era o seu lugar dentro de campo. Ao não compreender seu adversário e suas necessidades, a equipe esqueceu-se de suas próprias. Foi aí, então, que frustrou sua torcida.
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O futebol do Corinthians
No que diz respeito ao jogo apresentado, é preciso dar nome aos bois. O Corinthians foi, sim, superior ao seu adversário. As construções de jogadas do time da casa, portanto, foram mais efetivas. No meio de campo, Giuliano, Maycon e Adson viravam e alternavam probabilidades a todo o momento e davam mais opções ao ataque. Além disso, essas construção de meio campo tornava a defesa do Corinthians concisa e sólida.
Os problemas, porém, se concentravam nas duas extremidades do campo. Embora o meio de campo pudesse, conscientemente, ajudar na composição da defesa, o Timão sofreu mais uma vez por falta de sintonia. Gil e Robson são ótimos jogadores em suas caractecterísticas específicas. Estas, porém, ainda não encontraram encaixe no sistema de jogo. Mais uma vez, a calmaria de Gil se contrasta com o estilo de Robson, geralmente mais alarmado.
No ataque, entretanto, o problema era outro. Gil e Robson podem alegar que pouco jogaram juntos, ainda mais sendo as duas peças principais da defesa. Já Gustavo Silva e Gustavo Mantuan, não. Os dois jogadores atuaram pelas laterais do campo – esquerda e direita, respectivamente – mas movimentaram-se mal, dificultaram as jogadas de ataque e obrigaram Junior Moraes a caçar a bola no meio de campo.
O resultado passível de vaias
Com os problemas diagnosticados, não seria de se espantar que ambos causassem ao Corinthians um resultado negativo. E, de fato, não foi. Após o gol da Adson, em boa jogada construída com Giuliano e Junior Moraes, o Corinthians não recuou e seguiu buscando a ampliação. Ela não veio graças a boa atuação do goleiro adversário, claro, mas também esbarrou na ineficácia daqueles que deveriam empurrá-la para as redes.
Mas, ainda assim, o Corinthians não sofria pressão do Always Ready. O time adversário era constantemente parado na bem estruturada defesa corinthiana que, a partir da roubada de bola, reconstituía seu ataque. O problema, então, foi justamente esse: a reconstituição. Em um erro bobo de passe, Robson entrega a bola para o jogador adversário que, sem muito esforço, empata a partida.
A partir de então, a culpa do resultado recai única e exclusivamente sobre o Corinthians. Ainda melhor em campo, o time conseguiria facilmente reverter o placar com extensa vantagem, mas não o fez. Mesmo com a entrada de Willian, Jô e Renato Augusto, o Timão seguiu criando mais e convertendo menos. Foram mais de 20 chutes a gol em toda a partida, mas converteu apenas uma.
No ataque, Gustavo Mantuan, novamente, não conseguiu acompanhar o time e parou em suas próprias limitações. Sem chutar, buscava companheiros na área com passes fracos e cruzamentos sem direção, o que voltava todas as jogadas ao seu ponto inicial. Do outro lado, Gustavo Silva pouco correu e, por estar na esquerda, pouco criou. No primeiro tempo, Junior Moraes pouco conseguiu fazer, e Jô, contundido, menos ainda.
O que fazer agora
O sinal de alerta foi ligado. A classificação veio, mas o quarto empate consecutivo do Corinthians colocou o time apenas na segunda colocação no grupo da Libertadores. Por sorteio, seu adversário nas oitavas de final será o mesmo Boca Juniors que enfrentou em duas oportunidades na fase de grupos. Porém, para estes jogos, não haverá mais tempo para testes. Até lá, é preciso construir uma base forte e consolidada para avançar às quartas.
Porém, é preciso olhar o copo meio cheio. O resultado, definitivamente, não é o esperado e nem o melhor possível, mas não é pior cenário. O Corinthians está na próxima fase da competição depois de ter se reestruturado nela. É preciso, agora sim, saber o seu lugar e armar um time competitivo para avançar. Não é impossível. O Corinthians conhece muito bem o time que irá enfrentar.
Mas não é possível virar a página. É preciso dar continuidade a ela. Virar a página significa deixar para trás o que foi feito na anterior, e isso pode, portanto, prejudicar o desenvolvimento do time. O Corinthians precisa aprender com os erros cometidos ontem, diagnosticar os problemas com rapidez e solucioná-los ainda mais rápido. Não há mais tempo para dúvidas. Sem página virada, é hora de escrever o próximo parágrafo. O que será que vem aí?