A vitória do Corinthians sobre o Atlético-MG pelo Campeonato Brasileiro gera marcações icônicas para este novo momento do time. Isso quer dizer, portanto, que é, sim, uma noite para viver no imaginário do torcedor. Afinal de contas, trata-se mais de uma vitória; mais do que três pontos adicionados à tabela corinthiana. A noite de ontem é marcante para consolidar o momento do Corinthians e demonstrar que, de fato, o Timão sabe jogar jogos grandes.
Apesar das atuações recentes, o Corinthians ainda carregava consigo um passado quase tenebroso. Mais do que a ausência de títulos, o Corinthians vivia uma abstinência daquilo que lhe fazia Corinthians: o espírito lutador. Por mais estranho que isso possa parecer, este espírito retornou ao clube com a chegada de um técnico português. Entretanto, este mesmo passado trouxe para 2022 e para Vitor Pereira uma série de tabus incômodos.
Contra o Atlético-MG, por exemplo, eram cinco jogos sem ganhar. Encontramos os rivais interestaduais em diversas situações, com uma amplitudade de técnicos e jogadores, e não arrancamos pontos. Ontem, porém, o Corinthians demonstrou algo que, nos demais encontros, não víamos: força. O Timão não abaixou a cabeça, mesmo diante da superioridade técnica e de placar. Isso mostra que o Corinthians é, sim, candidato ao título – e mais! – em 2022.
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Lei do atual do Corinthians
Há quem olhe para os dois gols marcados por Fábio Santos no jogo de ontem e diga: “mais um claro exemplo da Lei do Ex”. Eu, particularmente, discordo. É claro que o futebol tem dessas brincadeiras e, portanto, vê a Lei de Murphy trabalhar com frequência. Mas, no caso de Fábio Santos, o nome é outro: é a Lei do Atual. O lateral esquerdo joga com facilidade no Corinthians por identificação com o clube, dedicação e muito trabalho para honrar o manto.
E, convenhamos, Fábio Santos manda no campo. Ele atua com maestria pela lateral esquerda, mas sabe ocupar a zaga quando necessário e até atua no ataque se preciso for. Fábio é, portanto, onipresente nos jogos do Corinthians. Não a toa ele é referência em sua posição. Porém, ontem, ao entrar na área como o camisa 9 que faltava e cabecear de peixinho, mostrou-se onisciente das necessidades de seu time. Isso se prova também em suas cobranças de pênalti.
Em jogada incrível, o Corinthians conseguiu um empate épico. Afinal, falamos de um cruzamento de lateral para lateral! Fagner, que toma conta do lado direito do campo, é mais ofensivo que o companheiro, mas tão onipresente e onsciente quanto. Ontem, aliás, grande parte das jogadas construídas e anuladas do jogo passaram pelos pés de ambos. O gol de empate, por mais inusitado que seja, é uma consequência de um trabalho de atuais.
Balbuena e Bruno Mendéz: a inusitada dupla funcional
O Corinthians ontem contava com a reestreia de um dos grandes nomes da defesa corinthiana na era recente: Fabian Balbuena. O zagueiro, que retornou há pouco ao Corinthians, chegou dizendo que estava pronto para jogar. E, portanto, não mentiu. No primeiro jogo após sua regularização já estava de prontidão, de posse da camisa 31, relacionado e escalado como titular. Também, não era para menos.
Sua fama o persegue, e não imagino que tenha sido uma decisão difícil para Vitor Pereira. A pergunta que ficava era, então, quem deveria acompanhá-lo nesta estreia. Gil e Raul Gustavo vinham formando a dupla titular da zaga desde a venda de João Victor e, seguindo a lógica do rodízio, deveriam descansar. Bruno Mendéz assumiu o posto. Por aqui, a desconfiança falou mais alto que a crença. Porém, no fim, a habilidade falou mais alto que a desconfiança.
As características de ambos os jogadores – velocidade, saídas de bola precisas e controle dos desarmes – formaram o casamento perfeito. Balbuena e Bruno Mendéz fizeram, portanto, uma partida que beira a perfeição. Sem culpa no gol tomado, fecharam espaços, forçaram a marcação e ajudaram na criação de jogadas. Há quem diga, inclusive, que, seguindo a expressão popular, colocaram o principal atacante adversário “no bolso”. Mas isso eu deixo para vocês.
Calma que o Corinthians vem aí!
Quando Vitor Pereira foi anunciado, a torcida via nele a característica principal de pressão no campo de ataque. E, realmente, taticamente, é isto que o português gosta de fazer. Porém, a impressão digital do técnico corinthiano está marcada principalmente em outro aspecto. O gesto clássico dos dedos indicadores apontando para as têmporas já indica: é preciso usar a cabeça.
Ontem, aliás, foi exatamente isso o que o Corinthians fez. Embora tenha se desorganizado brevemente após o gol do Atlético-MG, o Timão soube controlar seus ânimos e focar na partida. Foi assim, inclusive, que o time soube recuperar-se do baque e entrar novamente no jogo. Com calma, paciência e muita atenção, foi possível ver os jogadores analisarem o jogo de uma nova perspectiva. Em sua área técnica, Vitor Pereira fazia o mesmo.
Foi assim que ele entendeu que, com a troca eficaz de passes atleticanos, era preciso reforçar o meio de campo e evitar o dinamismo. Cantillo, que vem atuando com maestria nos desarmes, soltou o pé e resolveu parte do problema. A partir daí, o Timão teve, enfim, uma sobrevida. Vitor Pereira pôde então buscar melhorar a transição entre ataque e defesa e conseguiu, com inteligência, ligar os dois setores. Sua maneira de reger o time é interessantíssima!
Menção honrosa: Carlos Miguel
Além da escalação de Bruno Mendéz como titular, a lista divulgada por Vitor Pereira neste domingo tinha outra novidade. Cássio não viajou com a equipe e, consequentemente, não enfrentaria o Atlético-MG. Em seu lugar, o jovem goleiro Carlos Miguel, que ainda não tinha estreado pelo Corinthians, defenderia as redes corinthianas. Ao fim da partida, a torcida viu nele uma grata surpresa.
Seguro de suas habilidades, de seu time e da estratégia montada, Carlos Miguel parecia sempre atento aos lances do jogo. Entrou ligado e, quando foi exigido, desempenhou seu papel muito bem. Embora tenha tomado um gol, a bola chutada por Keno era indefensável. Entretanto, o arqueiro de mais de dois metros de altura acertou o canto do chute e por pouco não conseguiu ao menos resvalar na bola.
Porém, o que mais chamou a atenção foi sua postura após o gol. Chamou o time para o jogo, motivou seus defensores como pôde e, durante toda a partida, gritou cobranças e incentivos. Foi bonito de ver. Ao corinthiano emocionado, é preciso, entretanto, ter calma. Já li em diversos locais que ele nasceu para ser “o novo Cássio”. O garoto tem futuro generoso pela frente e, convenhamos, potencial imenso, mas com os pés no chão. Ele pode, sim, chegar lá. Com calma.
O português tem um plano
Em entrevista, Vitor Pereira disse que o time foi obrigado a adotar uma postura mais resultista nos últimos jogos. Por isso, aliás, não apresenta o famoso “futebol arte”. Ou, para aqueles que entendem as preferências do técnico, o Corinthians ainda não apresenta a técnica do futebol inglês. E, convenhamos, ainda há um longo caminho a percorrer para que isto aconteça. Porém, Vitor Pereira tem um plano.
Ao assumir o Corinthians no início de 2022, Vitor Pereira ouviu de diversas fontes que este time era um “barco que já havia zarpado”. Era tarde demais, mesmo tão no início da temporada, para salvar o Timão. Mas o técnico português provou que o Corinthians era vítima de um estigma passado e replicado anualmente contra o clube. O time, mesmo desfalcado, poderia mais se o trabalho fosse bem feito. E vem sendo muito bem feito!
Hoje o Corinthians é o único Paulista que briga nas três principais frentes do país: Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil e CONMEBOL Libertadores. Desbancando seus rivais, que ou não se classificaram ou ficaram para trás em alguma das competições, o Corinthians foi mais longe. E pode ir ainda mais. Méritos, portanto, de Vitor Pereira. A vitória contra o Atlético-MG provou aos descrentes aquilo que nós já sabíamos: o Corinthians vai bem, obrigado!