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Corinthians x Cruzeiro 1998: A crônica do Bi

Identidade Corinthiana

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Rivais na 1ª rodada do Brasileirão 2023, Corinthians e Cruzeiro já travaram uma final épica, decidida em três jogos, no Brasileiro de 1998.

A história do bicampeonato do Timão é uma história de bastidores tensos, de redenção humana e de uma das contratações mais curiosas de que se tem notícia.

Retorno de Marcelinho Carioca ao Corinthians

Marcelinho com a camisa do Disk, onde os quatro clubes grandes, incluindo o Corinthians estavam na camisa
Ação da FPF do Disk Marcelinho, para a torcida que mais ligasse contratar o atleta. Foto: Reprodução

 

De volta ao Brasil após passagem frustrante pelo Valencia, Marcelinho Carioca não teve seu passe comprado por um clube, mas pela Federação Paulista de Futebol. E os cartolas acharam uma forma inusitada de lucrar com o destino do craque.

Em uma ação de marketing histórica, a FPF lançou o “disk Marcelinho”. O torcedor que quisesse o Pé de Anjo em seu time, devia telefonar para um 0900, com custo de R$3 por chamada. Quem ligasse mais, levava. Foram 11 dias polêmicos, mas a força da Fiel garantiu a volta do ídolo.

Marcelinho era a cereja do bolo em uma janela de transferências que revolucionou o time do Corinthians. O clube já havia buscado nomes como Gamarra e Vampeta para apagar a péssima impressão deixada no Brasileirão de 1997. Mas o principal reforço ficava mesmo no banco de reservas.
A chegada do técnico Vanderlei Luxemburgo, conhecido por um estilo que aliava jogo bonito a bons resultados, enchia a torcida de esperança por títulos.
Mas o sonho quase foi interrompido por um jogo que aconteceu bem longe do Parque São Jorge. No dia 12 de julho, em Saint-Denis, o Brasil foi atropelado pela França na final da Copa do Mundo. Atordoada, a CBF dispensou Zagallo e foi atrás do grande técnico do momento.
Luxa aceitou o convite para treinar a Seleção, mas com uma condição: que pudesse conciliar o cargo com o trabalho no Corinthians até o fim do ano. A Fiel respirou aliviada com o aval de Ricardo Teixeira. Restavam poucos dias para o início do Brasileirão.
Com tantas estrelas, o Timão começou o campeonato com tudo: o 1×0 sobre o Vasco no Maracanã e o 5×1 sobre o Atlético no Mineirão foram algumas das vitórias que valeram o posto de melhor time da primeira fase. Mas, no meio do caminho, uma crise. Irritado com os atrasos e sumiços de Marcelinho, Luxa afastou o craque às vésperas de um clássico contra o São Paulo. O jogador tinha relação difícil com o comandante e com a maioria dos companheiros. Mas, pelo bem do time, foi reintegrado.
Com as estrelas devidamente alinhadas, o Corinthians voltou suas energias para os inéditos “playoffs” do Brasileirão. Cada duelo de mata-mata seria decidido em três jogos, a fim de aumentar a arrecadação – e de quebra, arrebentar de vez com os nervos do torcedor. E como foi sofrido. Edílson marcou o gol que fez a Fiel respirar aliviada no 3º jogo contra o Grêmio, pelas quartas de final. E repetiu a dose na semifinal, contra o Santos.

 

Final emocionante

Corinthians e Cruzeiro se enfrentando na final do Brasileiro de 1998
Corinthians e Cruzeiro se enfrentando na final do Brasileiro de 1998. Foto: Reprodução

 

O Corinthians, no melhor estilo Corinthians, estava na final do Campeonato Brasileiro. E o sufoco seria ainda maior na decisão. Empurrado pelo Mineirão lotado, o Cruzeiro abriu 2 a 0 no primeiro jogo. Em apuros, Luxa mexeu o time no intervalo, recorrendo a um jogador que escreveria de vez seu nome na história do Timão: Dinei.
Campeão pelo Corinthians em 1990, Dinei perdeu o rumo nos anos seguintes e chegou ao fundo do poço em 1996, quando defendia o Coritiba. Pego no doping por uso de cocaína, recebeu um “gancho” de oito meses e viu seu futuro no esporte ameaçado. Dinei assumiu seu vício, buscou tratamento e retornou ao futebol. De volta ao Timão em 98, foi escolhido para tentar mudar os rumos da final. E mudou.
Aos 8 do 2º tempo, diminuiu o placar, encerrando um jejum de 14 jogos. Logo depois, cruzou na cabeça de Marcelinho: 2 a 2. O 2º jogo, no Morumbi, foi marcado por um erro clamoroso da arbitragem. Rincón aproveitou rebote para mandar para as redes, mas o bandeirinha assinalou impedimento – ignorando um defensor que estava pelo menos 4 metros à frente do colombiano.
O Corinthians engoliu a frustração e apostou novamente em Dinei para buscar a vitória na 2ª etapa. E foi dele a jogada que terminou em mais um gol de Marcelinho: 1 a 0. Valente, o Cruzeiro buscou o empate com o artilheiro Marcelo Ramos.
Ficou tudo para o terceiro jogo. 23 de dezembro de 1998. Cinco meses e quase 300 jogos depois, o Brasileiro teria, enfim, seu novo campeão. A tarde de quarta-feira, antevéspera de Natal, era de chuva, ansiedade e caos na capital paulista. Todos os caminhos levavam ao Morumbi.
Luxemburgo não quis saber da vantagem do empate e, ciente de ter o melhor time, mandou o Corinthians para cima. A pressão era grande, mas o goleiro cruzeirense Dida vivia uma de suas jornadas inspiradas. Foi ele o principal responsável pelo 0x0 no 1º tempo. Veio a 2ª etapa e, precisando de um gol, o Cruzeiro começou a rondar perigosamente a meta de Nei.
O ar era quase irrespirável no Morumbi quando Dinei – e quem mais? – entrou em cena. Ele recebeu na intermediária e deu passe precioso para Edílson driblar Dida e completar: 1 a 0. A festa corinthiana já tomava as ruas do país quando Dinei partiu para cima da marcação, fez o drible e cruzou para Marcelinho finalizar, de peixinho. Loucura no campo, loucura nas arquibancadas.
Dois para o Corinthians, zero para o Cruzeiro. A imprensa não demoraria a apontar que a comemoração de Marcelinho fora distante dos companheiros, dando a própria volta olímpica nos braços da Fiel.
E flagrou o encontro do camisa 7 com Luxemburgo, que rendeu-se ao craque pelo menos por um instante: “Parabéns, seu moleque!”.
Enquanto isso, Dinei, o herói improvável, o herói com a cara do Corinthians, fazia um desabafo comovido para as câmeras. “Nem acredito que tudo isso esteja acontecendo na minha vida. Hoje, sou um exemplo para os jovens. Espero que tenha muita gente me seguindo.” A emoção e os festejos durariam dias, fazendo daquele um Natal inesquecível para todos os alvinegros. Foi duro, foi sofrido, mas o timaço de 1998 fora devidamente coroado. O Corinthians era bicampeão brasileiro de futebol.

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