Ainda é cedo. O Corinthians fez apenas o seu primeiro jogo no Campeonato Brasileiro, ontem (10), contra o Botafogo. Sim, ainda é cedo.
Mas, ao mesmo tempo, para o torcedor corinthiano, já parece tarde. O Corinthians vinha, até esse momento, desorganizado, confuso e perdido em meio a uma filosofia que tinha dificuldades em aderir. Porém, na partida de ontem, houve um finalmente: finalmente, se viu (parcialmente) o Corinthians de Vitor Pereira.
O Corinthians que venceu o Botafogo
O Timão, que estreou com vitória no Campeonato Brasileiro não exorcizou fantasmas e nem se livrou por completo das desconfianças da torcida. Não se fala de um time pronto, agora preparado para encarar as competições simultâneas que vão tomar conta de 2022. Mas agora, depois da exibição do Brasileiro, pode-se, enfim, falar de um time em preparação.
Falta confiança, claro. Faltam ajustes finos, com toda a certeza. Falta, talvez, aquela certeza do “ser Corinthians” que deve estar intríseca naquilo que é revestido pelo manto corinthiano. Mas, nesta primeira exibição, o alvinegro sobras. Sobras de passes bem articulados, de desarmes, de posse de bola e de chegadas perigosas. Houve sobra de jogadores que, futebolisticamente, estavam em falta.
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O “foguetinho” sem ré
Mas é preciso nomear os premiados. O Corinthians que venceu, com folga, o Botafogo por três a um passou principalmente pelos pés do camisa 10, Willian. O meio campo que faz as vezes de ponta vinha em débito com a torcida, com atuações apagadas e fazendo o simplório papel de “válvula de escape” rápida para os ataques do Corinthians. Ontem, mais do que habilidade, Willian apresentou destreza.
Soube se livrar de uma marcação que, majoritariamente, só larga das suas chuteiras para marcar as de Renato Augusto, e criou uma grande tensão na defesa adversária. Sua velocidade foi uma de suas armas, mas não a principal. Com chutes rápidos, passes precisos na boca da área de cruzamentos exemplares – inclusive um de trivela -, Willian deu à torcida um relance de seu bom futebol. E não decepcionou.
Quais as implicações disso para o Corinthians?
Se Vitor Pereira quer um time agressivo e ofensivo, parece ter encontrado a fórmula para que isso acontecesse. Entrosar Lucas Piton, Paulinho e Willian foi um artigo de fácil resultado e, só na estreia do Brasileirão, rendeu dois dos três gols. Além disso, a formação com cinco jogadores no meio de campo deu ao técnico a movimentação para frente que ele tanto pedia, além de reforçar a marcação sem a bola.
Embora tais jogadas de “marcação/pressão” ainda não tenham funcionado perfeitamente, os torcedores que acompanharam o embate no estádio Nilton Santos perceberam que é um trabalho em plena evolução. A presença de Maycon no meio oferece mais segurança para Du Queiroz, e os dois juntos conseguem subir a marcação e facilitar a criação de jogadas. Com a entrada de Giuliano, o esquema não se perdeu e ainda foi possível manter o ritmo.
Atrás da linha de meio de campo, João Victor e Raul Gustavo geraram dúvidas ao serem escalados. Não seriam os dois jogadores jovens demais para assumir a zaga do Corinthians? Pois, ao que tudo indica, suas datas de nascimento são apenas datas. Raul e João fizeram seu papel com exímia maestria e, apesar de ainda pecarem na saída de bola, controlaram as jogadas de defesa sem desespero e souberam aguentar a pressão quando preciso.
O ataque, apesar de ainda ser uma incógnita, ganhou opções. Roger Guedes funcionou melhor tendo a velocidade de Willian para acompanhar a sua, e Giovane foi uma grata breve surpresa. O jovem atacante, com fama de goleador nas categorias de base do Timão, chegou com perigo na área e soube acompanhar seus colegas de time. Ainda é cedo e ele é um “diamante (muito) bruto”, mas, se bem lapidado, pode ser um desafogo necessário na área.
A pergunta que não quer calar: este é o Corinthians de VP?
O jogo de ontem deu esperanças, mas não pode ser um marco definitivo para a torcida corinthiana. Porém, pode, deve e será lembrado como a primeira vez em que o Corinthians demonstrou a novidade de seu técnico. Vitor Pereira mudou a formação, alterou peças e explorou peculiaridades de seu elenco. Isso mostra que, apesar de ainda não conhecê-los afundo, o português sabe quem são seus jogadores – e está aprendendo a utilizá-los.
Willian é rápido, mas é armador. Maycon é defensivo, mas tem bom pensamento de jogada. João Victor é um excelente defensor, mas demonstra agilidade rara para alguém da sua estatura. Paulinho é organizador, mas é figurinha carimbada em jogadas de ataque. Agora, Vitor Pereira parece saber disso. Agora, Vitor Pereira pode trabalhar com estas informações de forma mais certeira.
O que acontece agora?
Mas há um porém importante: Vitor Pereira não quer um elenco fixo, e já deixou isso muito claro. Ele quer que suas peças sejam coringas para diversos esquemas de jogo, e não parece ser o tipo de treinador que arrisca pontos por uma escalação. Cabe ao corinthiano se acostumar. E ao elenco, também. A torcida ainda verá novidades nas escalações e nas substituições, mas é preciso confiar: Vitor Pereira tem um plano.
Se há algo de bom a se tirar da última semana do Timão, é a confiança que os torcedores depositam em seu técnico. Em tempos não muito distantes, resultados desanimadores como aqueles que passaram lhe custariam o emprego! Hoje, o corinthiano sabe que há um projeto a ser construído e confia na maneira que Vitor Pereira quer dar vazão a ele. Esta confiança é a chave do Corinthians para a temporada.
Esta foi apenas a primeira de 37 rodadas que se seguirão. Há quem diga que uma vitória na primeira delas não é tão determinante para o restante do campeonato. Mas será mesmo? Ou será que é este primeiro momento que dá aos jogadores e torcedores um gostinho do que virá – e do que pode vir – a seguir? Porém, cada um acredita no que quer. O que importa é que o Corinthians começou a corrida com os pés direitos – e em velocidade!