Em entrevista exclusiva concedida à Gazeta Esportiva, o presidente do Corinthians Duílio Monteiro Alves falou a respeito das pretensões financeiras do clube para encerrar o ano de 2021 com as contas equalizadas.
Assim como Andrés Sanchez, Mario Gobbi e Roberto de Andrade, presidentes do Corinthians nos últimos 14 anos, Duílio também foi eleito para o cargo através da chapa “Renovação e Transparência”. Vale ressaltar que somente entre o período de 2019 até o presente momento, a dívida líquida do Corinthians, ou seja, a subtração das dívidas do clube pelo dinheiro que o mesmo possui em caixa, quase que dobrou. Afinal, o valor subiu mais de 20%, saindo de R$ 783 milhões para R$ 949 milhões.
Tentativa de equalizar as contas do Corinthians
Sendo assim, não é à toa que o objetivo principal da gestão de Duílio na presidência do Corinthians é de dar o mínimo de controle à situação financeira periclitante não qual o clube se encontra. Dessa forma, a direção corinthiana pretende aumentar sua arrecadação a fim de dar fôlego ao fluxo de caixa. Por isso, uma das táticas é a de arrecadar através da venda de jogadores.
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Nesse sentido, o Corinthians aumentou sua previsão orçamentária advinda de possíveis transferências de jogadores. A princípio, a meta era de R$ 70 milhões para este ano. Contudo, o valor precisou ser revisto passando para R$ 100 milhões. Por hora, tudo isso está apenas no campo das hipóteses. Apesar já de ter negociado atletas e eliminado alguns gastos com grandes salários, na realidade, o número ainda está bem distante.
Além disso, outro fator que atrapalha o Corinthians no alcance desse objetivo de equilibrar as contas são os contates bloqueios sofridos pelo clube. Isso porque, hora ou outra a Justiça determina bloqueio de contras e de receitas que o Alvinegro tem a receber de seus parceiros. Resultado esperado, considerando a quantidade de processos sofridos pelo Corinthians nos últimos anos. Em outras palavras, no bom português, o Corinthians deita na cama que arrumou.
Entrevista de Duílio à Gazeta Esportiva
Desse modo, a fim de explicar, da sua maneira, algumas questões, Duílio falou em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva. Após o jornalista Tiago Salazar questionar o presidente do Corinthians a respeito da previsão orçamentária do clube, Duílio disse e seguinte: “Eram R$ 70 milhões, como você colocou, e existe a previsão de aumento até para R$ 100 milhões de vendas”.
Conforme palavras do atual presidente do Corinthians, o clube conta também com outras receitas, além da venda de atletas, para tentar alcançar o montante de R$ 100 milhões de receita neste ano:
“A gente também tinha uma previsão de receitas, que a gente vem superando bastante, com marketing, novos patrocínios, novas propriedades, que o clube tem hoje utilizado. Então, que a gente não atinja a venda, a gente vai ter de compensar com novas receitas”.
Duílio ainda tentou comparar a situação vivida pelo Corinthians com clubes europeus como o Barcelona. A tentativa do mandatário é de justificar a dificuldade que o Alvinegro encontra para vender bem seus jogadores. Desse modo, a “muleta” da vez foram as dificuldades impostas pela pandemia não só ao futebol, mas ao mundo inteiro. Sendo assim, o presidente do Timão falou:
“A gente trabalha, lógico, com possibilidade de vendas, mas também é um mercado que, infelizmente, afetou todo o mundo do futebol. A gente acompanha aí o Barcelona, esses dias, anunciando mais de 1 bi (bilhão) e 300 milhões de euros de dívida, outros clubes, exceto o Paris Saint-Germain, que fez essa contratação do Messi, a gente vê dificuldade no mercado de transferência em geral. Se acompanhar hoje o futebol europeu, por exemplo, que é um futebol forte, com moeda forte, uma Premier League, La Liga, também um volume de transferências é muito pequeno”.
Há de fato propostas ou apenas sondagens?
Tiago Salazar, por sua vez, aproveitou para perguntar se já houve de fato alguma proposta concreta por jogadores do Corinthians, ou se seriam apenas sondagens. Desse modo, Duílio respondeu:
“Não. Existe proposta por alguns jogadores, a gente vem negociando, tem coisas que agradaram, outras não, a gente vive um momento de necessidade de venda, assim como o mundo todo do futebol. Como eu acabei de colocar, o Barcelona tendo aí que abrir mão do seu maior jogador, que nasceu e viveu lá dentro, conquistou tudo, por questões financeiras, e aqui no Brasil não é diferente. Não que a gente esteja desesperado, como foi colocado esses dias, para vender atletas, mas, lógico, existe necessidade, e isso vai nos ajudar também a colocar nosso fluxo de caixa em dia”.
E quanto ao fluxo de caixa do Corinthians?
Segundo Duílio, as dificuldades em manter o equilíbrio entre o dinheiro recolhido e o montante gasto, ou seja, o fluxo de caixa, tem sido o fator que vem impedindo o Corinthians de manter salários de funcionários e jogadores em dia. Além também, de estar em falta com os vencimentos das categorias de base. Conforme as próprias palavras do atual presidente do Alvinegro:
“É bom que a gente deixe claro que, desde o início da gestão, a gente vem colocando em dia a folha. O que acontece é atrasar dois dias, três dias. O máximo, mês passado, foram seis ou sete dias, porque, infelizmente, a gente ainda sofre com processos, com bloqueios de conta, com bloqueios de receitas vindas de patrocinadores. Mas, nosso jurídico vem trabalhando muito bem, tem conseguido fazer acordos, para que a gente coloque isso dentro de um fluxo, para que isso não atrapalhe e não tenha esse tipo de bloqueio, e que a gente não tenha que atrasar em dois, três dias uma folha de pagamento”.
Aproveitando que Duílio citou a questão dos bloqueios impostos ao Corinthians pela Justiça, recentemente, o clube teve R$ 1,7 milhão bloqueado. Isso porque, o clube ficou inadimplente com a Federação das Associações de Atletas Profissionais de abril de 2016 até março de 2020. Sendo assim, por óbvio, a conta chegou.
Dívida com as categorias de base
Além disso, na última segunda-feira (16), a Justiça determinou a penhora de R$ 565,4 mil em função de dívida. Dessa forma, Duílio comentou a situação das categorias de base:
“Nós resolvemos da base uma parte. Hoje, sim, a folha do futebol profissional, dos funcionários (não dos jogadores), está sanada. Da base, foi pago também mais uma parcela e tem uma em atraso que a gente quer regularizar ainda essa semana. Então, as coisas estão andando e os atrasos que têm acontecido são esses, de poucos dias, não existe… É como eu coloquei, Corinthians vende muito, então, só se fala de Corinthians. Mas, existem muitos clubes, a maioria deles com folhas atrasadas, mas isso não é noticiado”.
Aproveitou também para tentar minimizar a situação mencionando que as notícias sobre o Alvinegro vêm à tona porque o Corinthians vende. De fato, o Corinthians vende por ter a segunda, ou, quiçá a maior torcida do país. Quanto às notícias sobre as dívidas do clube, elas não vão além dos fatos. Ora, se não existissem, não teria o que ser noticiado.
Como os jogadores do Corinthians lidam com a situação?
Quanto à forma como a qual os atletas do Corinthians lidam com a situação financeira delicada vivida pelo clube, Duílio falou:
“Mas é legal deixar claro que no Corinthians a gente tem uma relação muito boa com os atletas, eles estão sempre juntos, entendendo, acompanhando o que vem acontecendo no dia-a-dia em questões de bloqueios, então, existe uma tranquilidade muito grande em nós em relação a isso. Ano passado, chegamos a ter três, quatro meses de salários atrasados durante a pandemia, quando parou o futebol de vez, e hoje não, é de três, quatro dias, às vezes paga um dia antes, depende muito do que a gente vem enfrentando de fluxo de caixa e, muitas vezes, esses bloqueios de receitas que o nosso jurídico vem resolvendo com acordos”
Relação entre salários inadimplentes e dívidas do Corinthians
Por fim, Duílio tentou distanciar os atrasos de salários com a dívida total do Corinthians. Segundo o presidente, os fatos não estão diretamente ligados. Nesse sentido, o mandatário disse o seguinte:
“Muitos falam em resolver a nossa dívida. A gente não vai resolver uma dívida desse tamanho em (poucos) anos. Tem clubes, hoje, que estão liderando o campeonato, muito bem, que devem mais. Tem outros que são, vou citar aqui o Flamengo, que fizeram um trabalho de recuperação alguns anos atrás, e tem uma dívida próxima do que a gente tem, mas tem o fluxo controlado. Então, eles conseguem, o dia-a-dia… Você não tem problema de ter a dívida desde que ela esteja equalizada, vamos dizer, que você tenha caixa para pagá-la em dia. Isso (pagar a dívida) pode demorar um tempo e não afeta em nada o clube. Esse é o nosso desafio, colocar as contas em ordem de uma forma que a gente consiga honrar os nossos compromissos e não tenha nenhum tipo de atraso de folha no futebol”.
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