O empate sem gols entre Corinthians e Deportivo Cali, pela Libertadores, deixou no corinthiano um gosto amargo no fundo da garganta. Vitor Pereira compartilha da sensação, assim como Cássio, Fábio Santos e Jô. O time, porém, poderia ter mudado este cenário e ter colocado três pontos na mala para voltar ao Brasil. Não o fez não por incapacidade, erros técnicos ou falta de vontade. Ontem, não deu.
É difícil acreditar, mas o futebol tem dessas. Às vezes, o melhor em campo não marca, ou aquele jogador que se destaca perde o gol feito e o time não ganha. Embora seja difícil pensar que um esporte baseado em técnica e tática, às vezes, se resume a “sorte”, isso acontece. E ontem, portanto, este fator foi infelizmente determinante ao Corinthians. Porém, nem tudo é culpa do invisível. O Timão construiu seu empate.
As mudanças do Corinthians
Quem olhou a escalação de Vitor Pereira de relance levou um susto. Sem Renato Augusto, Willian e Roger Guedes, o português apostou num trio de ataque que havia deixado dúvidas nas últimas partidas. Jô, Gustavo Silva e Gustavo Mantuan não tinham encontrado a sinergia necessária para fazer o ataque funcionar. Ontem, o primeiro tempo, entretanto, provou que a regra de desarmonia entre os três tem uma exceção.
Jô perdeu espaço no centro do ataque corinthiano há meses. Mesmo com o ex-técnico Sylvinho, o centroavante foi deixado no banco para improvisar Roger Guedes e até o próprio Mantuan pelo meio. Ontem, porém, o jogador provou que ainda conhece os meios do gol. Embora não tenha balançado as redes, fez uma de suas melhores partidas na temporada, com pivôs certeiros, giros efetivos dentro da área e chutes de risco. Foi o verdadeiro nome do ataque.
Seus companheiros, porém, não aproveitaram a nova chance. Com mais vontade do que juízo, os Gustavos pouco fizeram pelas laterais do campo. Mantuan fez mais, porém, pelo meio ao aproveitar as jogadas de pivô de Jô do que na sua função de origem. Quem, entretanto, aproveitou a oportunidade para mostrar versatilidade foi Lucas Piton, que entrou na lateral direita no lugar de Fagner ainda no início do jogo. Com boa visão de jogo, o lateral fez bom jogo.
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A tática de Vitor Pereira
Poupando jogadores e ciente das dificuldades da equipe adversária, Vitor Pereira não tentou reinventar a roda. Armou seu time para frente e apostou, mais uma vez, na velocidade pelas laterais para criar jogadas. Entretanto, suas maiores armas ainda estavam do meio para trás. Maycon, grande destaque na partida anterior pela Libertadores, apoiou-se em Giuliano para fechar a linha de meio campo e encontrar espaços no ataque.
No segundo tempo, o Deportivo Cali mudou. Subiu do intervalo com mais fome de gol e passou a ameaçar a zaga desorganizada do Corinthians. Então, logo após o pênalti brilhantemente defendido por Cássio, Vitor Pereira também mudou. Trouxe Gil para o campo e apostou numa linha de três zagueiros com laterais mais adiantados. Pouco tempo depois, para acompanhar as mudanças, colocou Renato Augusto, Willian e Junior Moraes.
Com mais liberdade, o meio de campo ousou mais no ataque e Junior Moraes apostou na grande mobilidade para levar perigo a área adversária. Todas as substituições entraram bem na partida, e, pouco depois das mudanças, o camisa 18 sofreu um pênalti após lançamento inteligente de Fábio Santos. A cobrança foi perdida, mas isso não apaga: a ideia de Vitor Pereira e suas mudanças foram efetivas.
A parede Cássio
A história de Cássio e do Corinthians se confundem em diversos pontos, mas tornam-se uma só quando se fala em Libertadores. O goleiro consolidou-se na meta corinthiana em 2012, depois de ter estreado sob fogo cruzado. De lá, não saiu mais. Em 10 anos, nenhum dos diversos goleiros reservas que rodaram pelo Corinthians jamais fizeram sombra a ele. Não por falta de habilidade própria, mas sim por excesso de habilidade de Cássio.
O goleiro pode ter oscilado em diversos momentos de sua carreira. Portanto, não é de se estranhar que, em algum momento, a torcida tenha pedido que ele figurasse no banco de reservas por um jogo ou dois. Há quem o quisesse fora. Mas que Cássio é indispensável, isso é, sem dúvidas, inegável. Além disso, o goleiro gosta de jogos competitivos, e ontem cresceu mais uma vez na competição sulamericana.
Ao sair de forma displiscente do gol, o próprio goleiro comete o pênalti. Não reclama. Não culpa o juiz. Assume sua posição. Aguenta os lasers jogados nos olhos, estuda o adversário e atrasa a cobrança para desestabilizar o batedor. Na hora de pular, não hesita: vai ser no seu canto direito. Ele pula, decidido, e espalma para frente, pulando em seguida para afastar o perigo. Ontem, mais uma vez, Cássio se provou gigante.
Daqui em diante, é preciso acertar
O maior problema do Corinthians deixou de ser a triangulação. Com a marcação no campo de ataque, os jogadores de meio campo têm mais visão de possíveis jogadas e podem explorar os espaços. Isso passa, portanto, pela qualidade dos jogadores que figuram na posição. Qualquer das variações com os atletas provou-se funcional. Afinal, suas habilidades se mostram cada vez mais complementares.
Na defesa, os ajustes necessários se mostram mais evidentes a cada partida. A inexperiência de João Victor e Raul Gustavo foi latente no jogo de ontem, mas a dupla funcionou perfeitamente no jogo anterior pela Libertadores. Alterar as peças ali, utilizando Gil, Robson Bambu e até Robert Renan pode ser importante, mas a base está fundada. Porém, é preciso arrumar, principalmente, o posicionamento nas jogadas de contrataque.
O problema real mora perto da área adversária. O último passe, tão famoso nas análises de comentaristas, tem sido o vilão nos jogos do Corinthians. Apesar de criar mais, controlar seus jogos e finalizar mais, os chutes corinthianos não balançam as redes tanto quanto poderiam. Nesse caso, é preciso ensaiar melhor suas jogadas e ajustar a força, a dimensão das bolas. Entre tentativas e erros, é preciso acertar. Falta pouco, mas ainda falta.