No jogo de volta da terceira fase da Copa do Brasil, contra a Portuguesa-RJ, o Corinthians provou sua evolução. Através de um meio de campo alinhado, uma linha defensiva móvel e um ataque de velocidade, o Timão não jogou futebol; jogou xadrez. Mas, afinal, como isso é possível? Há cerca de um mês atrás, o Corinthians era um time sem elenco com ótimas peças individuais. Como pode, portanto, jogar dessa forma em tão pouco tempo?
A resposta para isso é simples, entretanto. O Corinthians possui um excelente direcionamento. Vitor Pereira se readequa às posições do time semanalmente e estuda, com afinco, os adversário. Dessa forma, o técnico consegue moldar o time corinthiano para os desafios subsequentes. Vale dizer, portanto, que o Timão nunca é o mesmo duas partidas seguidas. Afinal, mais do que mudar as peças, Vitor Pereira muda o esquema a cada jogo.
O jogo de xadrez do Corinthians
O xadrez é um jogo que se ganha com inteligência. As peças não mudam, mas o jeito de jogar precisa ser perspicaz para pegar o adversário de surpresa. É preciso estudar atentamente, portanto, os movimentos de quem está do outro lado da mesa e manter a calma para agir com destreza e de forma objetiva. Ontem, contra a Portuguesa-RJ, o Corinthians não apresentou um bom futebol. O Timão de Vitor Pereira foi um exímio jogador de xadrez.
Com cuidado e com a vantagem do gramado, os corinthianos foram para cima. Ao contrário do que aconteceu no primeiro jogo, administraram os 90 minutos da partida. Antes dos 10 minutos, Junior Moraes mostrou sua forte presença de área mais uma vez e foi recompensado com o gol. Ainda no primeiro tempo, foi a vez de Giuliano receber o que sua boa partida lhe devia e, em boa jogada de Adson e cruzamento de Gustavo Silva, deixou o dele.
A entrada dos dois jogadores, geralmente reservas, deu ao Corinthians mais força do meio de campo para frente. Fala-se de dois jogadores corpulentos, de forma física quase impecável. E realmente são. Porém, mais do que isso, ambos os atletas ainda buscam seu lugar fixo no time e, justamente por isso, entendiam a importância do jogo de ontem. Para um, foi a inauguração das redes da Neo Química Arena. Para o outro, foi o gol da redenção.
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Os peões que protegem a realeza corinthiana
A partida de ontem precisava ser vencida sem sustos. Porém, como bem sabe Vitor Pereira, o seguro morreu de velho, como já diziam os mais experientes torcedores. Isso não quer dizer, entretanto, que o português não arriscaria em busca do resultado. Prova disso é a entrada de Fábio Santos, lateral esquerdo de grande estirpe, como composição da linha de defesa. Ao lado de João Victor e Robson, o jogador organizou a defesa e diminuiu os espaços deixados.
Foi uma jogada inteligente. Dessa forma, Piton poderia aproveitar melhor a lateral esquerda do campo para buscar jogadas de ataque e conter qualquer possibilidade de contrataque ainda no campo adversário. Para cumprir esta função, contou com o bom posicionamento defensivo de Maycon que, mais uma vez, mostrou-se um marco para o time corinthiano.
Do outro lado do campo, dessa vez pela direita, o garoto Adson mais uma vez mostrou a que veio. Com velocidade e uma capacidade ímpar de quebrar as linhas de marcação, foi fundamental para as chegadas do Corinthians. Vale ressaltar, entretanto, que suas funções apresentaram-se mais versáteis na noite de ontem. O jogador voltou com mais frequência à linha do meio de campo para buscar a bola, e atuou diretamente nas construções de jogadas.
Xeque Mate
No ataque, o Corinthians contava com dois jogadores de velocidade pelas laterais do campo – Gustavo Silva e Adson – e com a presença de Junior Moraes. Porém, mais uma vez, a inteligência superou a técnica. Ao analisar as jogadas ofensivas do Corinthians é impossível não notar a movimentação das peças de ataque na entrada da área. Os jogadores trocavam de posições, buscavam os passes com calma e encontravam o gol sem sofrer.
Não houve ontem, assim como aconteceu em partidas anteriores, o desespero pela entrada na área. O Corinthians de ontem agiu na calma. Muito disso passa pela presença de Giuliano e Junior Moraes no ataque. Mais experientes que Adson e Gustavo Silva, os dois souberam colocar a bola no chão e encaminhar o pensamento das tentativas. No fim, quase todos os toques passavam pelo menos uma vez pelos pés de cada um.
Giuliano, que assumiu o papel de Renato Augusto, mostrou que não está ali para substituí-lo. O camisa 11 é complementar ao camisa 8. Enquanto Renato é mais tático e busca a criação, Giuliano é mais ofensivo e tem presença na área mais fácil. Ontem, foi isso o que deu ao Corinthians os dois gols da partida. É importante lembrar, porém, que esta característica funcionou devido a agilidade de Junior Moraes.
Com um centroavante mais fixo e propenso a atuar como pivô, Giuliano não tem tanto poder de ação. Mas com a rapidez e com os cortes de Junior Moraes, as jogadas fluem com mais facilidade. Ontem, o primeiro gol saiu da infiltração de ambos na área, de forma certeira e clara. Ao técnico, isso abre um leque de opções! E com três competições simultâneas, opções úteis como esta serão sempre bem vindas.
O Corinthians não tem um time titular
A não titularidade do Corinthians é um fato. Mas é algo que, até a chegada de Vitor Pereira, era inimaginável. Ao anunciar Renato Augusto, Willian e Roger Guedes, não houve uma única pessoa que prevesse que qualquer um deles ficaria no banco. Em momento algum! Talvez nos primeiros jogos, para que pudessem “readquirir o ritmo brasileiro”, mas seria algo momentâneo. Vitor Pereira, por outro lado, vê o jogo do seu próprio jeito.
E isso, entretanto, provou-se, mais uma vez, de muita inteligência. Ao integrar os elencos e não utilizar jogadores apenas como “peças de reposição”, Vitor Pereira não tem 11 jogadores. Ele tem 16, 18 em alguns casos. Ou até os mais de 20 relacionados para cada partida. O time não perde rendimento ao precisar efetuar trocas e não sofre tanto com o ritmo frenético do calendário.
Renato Augusto e Willian foram relacionados, mas não atuaram por opção do treinador. Roger Guedes teve uma inflamação no joelho, mas esteve presente na Neo Química Arena para assistir ao jogo. Paulinho acompanhou a partida de casa. Giuliano, que geralmente assiste pelo banco, ontem figurou entre os titulares. Além deles, jovens como Adson, Mantuan, Wesley e Geovane ganham rodagem e experiência entre os titulares.
Hoje o Corinthians tem um elenco
Uma equipe de futebol não se faz por peças individuais. Afinal, um técnico pode ter à sua disposição uma série de jogadores de alto escalão, com salários absurdos e prêmios individuais para encher estantes. Porém, se eles não atuarem em conjunto e trabalharem em prol de um único objetivo, aquilo será apenas um time. Serão apenas 11 jogadores que se reuniram porque não se pode jogar sozinho pelas regras do esporte.
No início da temporada, era o que se dizia do Corinthians. Individualmente, tem um excelente time, mas não formou um elenco. E é verdade. Sylvinho tinha em mãos as mesmas peças que hoje Vitor Pereira tem. A diferença é o trabalho, o conjunto de fatores que uniram o time para se transformar, então, num elenco. O técnico conquistou a confiança do vestiário e convenceu os jogadores a comprarem seus ideais.
O rodízio constante não parece atrativo, mas é funcional quando colocado brilhantemente em prática. Dessa forma, além de poder variar taticamente, o Corinthians surpreende os adversários e não perde o ritmo de jogo quando precisa mexer. Prova disso foi a saída de Cássio ontem, com incômodo na coxa, para a entrada de Ivan. Nenhum dos dois goleiros foi muito acessado, mas, ainda assim, o jogo se manteve o mesmo na defesa.
O Corinthians mirou no futebol e, por inteligência, acertou no xadrez. Mas é importante dizer: isso não seria possível apenas com Vitor Pereira. Caso a equipe não tivesse se adaptado ao seu estilo de jogo e aceitado as mudanças, o Corinthians ainda seria o mesmo de dois meses atrás. Há quem diga que “o Corinthians tem a cara de Vitor Pereira”. É possível ir além: hoje, Vitor Pereira tem a cara do Corinthians.