Em uma das minhas análises recentes, mostrei uma frase incômoda dita pelos torcedores rivais ao Corinthians. Nela, portanto, os “anti” dizem que “a boa fase do Corinthians é como um boi em cima da árvore”. Ou seja, ninguém sabe como foi parar ali, só sabem que não deveria estar naquele lugar. Isso se refere à segunda posição isolada no Brasileiro e à classificação na Copa do Brasil e na Libertadores.
Ontem, porém, os torcedores – do Corinthians e dos rivais – entenderam como “o boi foi parar em cima da árvore”. O Corinthians, de forma esperta, trabalhosa e penosa, escalou seu caminho até ali. Não se trata de uma coincidência, de uma série de tropeços conjuntos. Se trata do Corinthians, construindo aos poucos um trabalho sólido e consistente, para assumir o seu lugar de origem: o topo!
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Um Corinthians x Santos para não se esquecer
Vitor Pereira se incomodava quando diziam que ele, enquanto técnico do Corinthians, não conseguia ganhar clássicos. Particularmente, acho a afirmação injusta. É inegável que o Timão não havia vencido nenhum de seus rivais paulistas em 2022. Porém, Vitor Pereira foi superior em um dos maiores – senão o maior – clássico sulamericano: Corinthians e Boca Juniors. Em duas partidas, aliás, não perdeu nenhuma e somou quatro pontos na Libertadores.
Justamente por isso, a partida de ida das oitavas de final da Copa do Brasil tinha um gosto diferente. Tanto para a comissão técnica quanto para os jogadores, aliás. Afinal, se os “miúdos” e os atletas mais experientes confiam e gostam tanto do VP, era preciso proteger sua imagem de bom técnico. Além do mais, nenhum jogador de futebol gosta de perder clássico. No Corinthians, não é diferente.
Porém, ontem, foi muito diferente. Ontem foi épico! O Corinthians, dentro de sua casa, se impôs como fez poucas vezes antes e, com coragem e determinação, fechou o jogo no primeiro tempo! O Timão foi intenso desde o primeiro segundo de jogo e apostou na construção para criar um placar vantajoso. Afinal, aquela partida não era uma daquelas que poderia ser vencida por um gol de diferença. Com força, o Corinthians mostrou sua importância!
Tudo o que deu certo
O Corinthians de Vitor Pereira tem uma grande capacidade de adaptação. Com desfalques pontuais duradouros, necessidades gigantescas e soluções escassas, o time precisou se organizar. E, para isso, precisava abdicar de potências a cada jogo para poder, de uma forma ou de outra, suprir suas deficiências. Isso ocasionou em bons resultados com placares curtos e performances que deixavam a desejar. Porém, isso também deu ao técnico uma forte lição.
Ontem, entretanto, contra o Santos, o Corinthians soube sintetizar todos seus acertos e consertar seus erros em uma única partida. É justo dizer que o time da Vila não ofereceu resistências às investidas corinthianas, claro. Porém, o Corinthians soube se portar para conquistar aquela vitória sem sofrer com o sufoco que um clássico traz. Apostando numa escalação mais próxima da que vinha sendo apresentada, Vitor Pereira trouxe ao campo um time pronto.
Colocou Cantillo para ajudar na contenção e distribuir jogadas, Du Queiroz para correr e Giuliano para comandar o meio de campo. Além disso, o camisa 11 deveria aparecer com força num ataque comandado por Willian, Roger Guedes e Gustavo Mantuan. Do meio para frente, então, o Corinthians fez a lição de casa com maestria – com direito a 10 e adesivo colorido da professora! Do meio para trás, aliás, a classe já parecia formada! Uma atuação de gala.
De pé em pé
O Corinthians ensaia um time envolvente desde a chegada de Vitor Pereira. O técnico português valoriza a posse de bola e a construção de jogadas em direção ao gol, que deve ser resultado de bons passes. Justamente por isso, ao olhar as estatísticas dos jogos do Timão, é possível ver quem comanda a bola. Porém, até ontem, “posse de bola” e “gols” não eram sinônimos no Corinthians. Até ontem.
Com um meio de campo participativo e uma dupla de zaga um pouco mais adiantada, o Corinthians iniciava sua jogada na defesa. Depois, com a participação ativa de seus laterais, principalmente de Fagner, acelerava até o campo adversário. Com esperteza e destreza, o time se enfiava por entre os zagueiros, tocava a bola com tranquilidade e se infiltrava. Isso ainda não tinha acontecido, mas foi, portanto, absurdamente funcional.
Quando pressionado na defesa, Raul Gustavo e João Victor agiam com calma e inteligência. Por serem dois jogadores rápidos, sabiam o momento certo de cercar e dar o bote e, com mais jeito do que força, afastar o perigo. Foi uma partida excelente da defesa corinthiana mesmo após perder João Victor no segundo tempo. A entrada de Robert Renan deu novos ares à defesa e, apesar da inexperiência do garoto, o setor se manteve seguro.
Aplausos corinthianos
A torcida que lotou o estádio ontem esperava ver um show de futebol. Justamente por isso, deu show nas arquibancadas. Antes do início da partida, as luzes do estádio se apagaram e os torcedores, com seus celulares, criaram um espetáculo de luminosidade. Enquanto entoavam cantos tradicionais, embalavam, mesmo que sem saber, um time que funciona por eles. O Corinthians funciona por cada um de seus torcedores.
Dentro de campo, o Timão correspondeu. Levou o Santos do conforto à pressão em muito pouco tempo e, com inteligência, fez valer seu mando de campo. Além disso, era bonito para o torcedor ver a transição de jogadas. Fagner dançou dentro de campo e passeou, sem dificuldades, por todos os setores do campo. Willian brincou de zigue-zague pelos lados de campo e voltou muito bem para marcar, sem sofrer. Já Roger Guedes, ontem, foi um jogador coletivo.
Cantillo agiu como um lutador de judô; foi preciso! Ele, que já foi tão criticado pelos seus desarmes falhos, ontem não deixou passar um! Du Queiroz brincou de velocista, enquanto Giuliano poderia ter encenado Shakespeare dentro da área adversária. Que jogo do camisa 11! Mais do que os dois gols, foi chefe e subordinado de um time sem papéis principais, mas agiu como o Rei daquela partida. E, realmente, foi o Rei!
O Corinthians feito de Corinthians
A partida de ontem, portanto, torna-se parâmetro para um time que almeja objetivos maiores para 2022 e para os anos que se seguem. Vitor Pereira já mostrou: dá para fazer. Ele, inclusive, adotou o estilo Corinthians para sua vida e, hoje, exibe o símbolo em sua roupa de jogo com orgulho. Afinal, ele é um dos grandes responsáveis por “colocar o boi em cima da árvore”. Tanto o fez que, ontem, portanto, chegou a ter oito filhos do Terrão em campo de uma única vez.
Apostar nos “miúdos” e, mais do que isso, prepará-los para o futebol, mostra o tipo de técnico que VP é. Vitor não é de desistir fácil. Já disse sem papas na língua que hoje o Corinthians precisa de mais, mas não vai abaixar a cabeça por causa disso. Vai lutar até o final! Afinal, quem foi que disse que ele não era bom de clássicos?! O português, aliás, tem 80% de aproveitamento dentro de casa. Vai ser difícil defender, portanto, a tese negativa contra ele!
Porém, mais do que isso, o técnico tem a confiança total de seus jogadores. Hoje, envolvidos pelo estilo do português, souberam se adaptar ao seu jogo e estão dispostos a fazê-lo funcionar. Afinal, eu não disse que o Corinthians era um time adaptativo? Pois o é! E como é. Mas, assim como Vitor Pereira, é um time de luta, que não está acostumado a desistir. O Corinthians pode ser o “boi em cima da árvore”, mas este parece ser o lugar perfeito para ele!