É correto dizer que Vitor Pereira pegou um momento turbulento para vir da Europa e aterrizar no Corinthians. A diretoria insistiu no que todo mundo sabia que não daria certo, e perdeu cruciais meses de 2022 com Sylvinho.
O português chegaria às pressas num país que pouco conhecia sobre calendário, pressão, cultura e tudo que sabemos que envolve o nosso futebol quase varzeano em alguns aspectos.
E ainda não teria tempo pra conhecer os jogadores, fazer uma pré-temporada digna ou utilizar o paulistão pra fazer experiências e aplicar seu trabalho. Pelo contrário, já chegou com clássicos pela frente, início de libertadores e jogos de mata-mata do Paulistão.
É bem válido lembrar também o quanto o torcedor absorveu muito bem todos os imprevistos e respeitou muito a chegada do nosso Mister. O comportamento temperamental do treinador foi um match instantâneo, criando uma relação que logo de cara deu Química, principalmente na Arena (rs). Não por menos, a invencibilidade do time dentro de casa superou marcas de Tite e Carille, e chegamos a mais de 20 jogos sem perder.
Vitor já mostrou também muita auto-confiança no que faz e pensa, liderança, grandeza e ainda teve que se adaptar a um jogo que não é o seu favorito para enfrentar imprevistos, calendário apertado, elenco ainda em formação, e também os desfalques (e uma curta fase muito crítica de 4 jogos com muitos desfalques que vimos acontecer no final de Junho e início de Julho). Com praticamente 3 anos sem um técnico campeão, o torcedor sentia falta desse cara com um ar de respeito máximo no comando do time.
Além de não afinar em entrevistas, e saber muito bem como evitar que uma briguinha cresça nos vestiários e bastidores (tirando a condução com Roger Guedes) fez ainda um trabalho que eu não tinha visto ainda até hoje por aqui em relação aos miúdos. Chegou a utilizar até em excesso em alguns jogos que eu acreditava em mais experiência. Mas, inegável o quanto fez uma gestão rápida com os jogadores mais jovens, fazendo-os crescer rapidamente e visivelmente pra torcida, em um clube em que boa parte do torcedor torce o nariz para a base.
E esse foi o que considero o resumo do trabalho e as partes boas da chegada de Vitor no Corinthians.
Com o passar dos tempos algumas coisas já não eram mais possíveis de argumentar a seu favor. Já são meses de sua chegada e a questão de tempo pra trabalhar já não é mais uma realidade. Pode-se dizer que o time passa a exibir o seu máximo, quando um técnico já está há mais de 1 ano trabalhando, o que eu concordo. Mas todos esses técnicos fizeram algo vistoso nos primeiros meses, seja em resultados ou em futebol. Alguma base já era pra estar mais sólida, e ninguém sabe nem o time titular direito, ou enxerga um esquema de jogo após esses meses.
Em 5 meses de trabalho de Vitor, um time precisa ter uma cara um pouco mais concreta, uma escalação mais definida e mais jogos bons no currículo. Mais escalações certeiras, menos invenções.
O torcedor consegue contar nos dedos os bons jogos sob seu comando (5×0 na fraca Ponte Preta, Boca na fase de Grupos, 4×0 no Santos, Botafogo na estreia do Brasileiro, Cali na Arena e Coritiba no Brasileiro). E todo o resto foi suco de resultadismo que sempre foi explicado por falta de tempo no comando, ou na qualidade individual de algumas peças do elenco.
E então chegamos na comparação possível com Tite pós-Tolima em 2011.
Tite havia conquistado uma Copa do Brasil em cima do próprio Corinthians em 2001 e uma Sulamericana recente pelo Inter em 2008, batendo Boca e Estudiantes pelo caminho. Eram os títulos mais pesados da carreira. E em 2009 seguia fazendo um trabalho bem interessante no Inter, estava no momento mais alto da carreira até então. Todos lembram da dificuldade que era enfrentar o Inter de Nilmar, D’Alessandro e Taison. A final da Copa do Brasil foi um grande jogo e com muitos milagres de Felipe no Pacaembu, contra um Inter ainda sem Nilmar no ataque, convocado para a seleção.
Tite já conhecia o clube e a torcida também o conhecia. Todo mundo guarda no coração a campanha de 2004 onde saímos da luta pelo rebaixamento, para a quase classificação para a Libertadores com um elenco bem nota 5. (Fomos da décima oitava colocação para a quinta posição).
Por coincidência, Tite saía do clube em 2005 por preterir um “miúdo”. Permitiu que Coelho batesse um pênalti no clássico contra o São Paulo no Morumbi. Tevez deveria ser o escolhido, segundo Kia, que já não gostava do treinador comandando seu time galático. Tite era demitido no dia seguinte.
Mas voltaremos para 2010.
Tite pegaria o Corinthians na reta final do Brasileiro daquele ano em que Adílson Batista tinha praticamente colocado o título no buraco. Após 5 jogos sem ganhar, e uma quase goleada para o Atlético-GO no Pacaembu, Adílson encerrava seu ciclo. (o jogo estava 1×4 e conseguimos diminuir para 3×4 no fim, o que não impediu a demissão).
Demitido na Rodada 29 do Brasileiro de 2010, Adílson deixaria pouco tempo para uma rápida recuperação do time pensando em título.
Tite não comandaria o clube na Rodada 30. Carille assumiria o cargo por uma rodada (Sim, Carille). E o jogo em Campinas contra o Guarani terminaria em 0x0. Tite assume e teria 8 rodadas para tentar buscar o Brasileiro de 2010 e por muito pouco não consegue.
Estreia simplesmente contra o Palmeiras no Pacaembu e ganha de 1×0.
Em seus 8 primeiros jogos, os últimos daquele Brasileirão, o time toma apenas 3 gols, os três fora de casa, não perde nenhuma partida, e ainda ganha dois clássicos, incluindo o SP no Morumbi.
Entre a primeira partida do time em 2011, até o jogo de ida contra o Tolima, o elenco tem apenas 10 dias de preparação. É claro que fica mais fácil falar hoje vendo de longe, o quanto seria absurdo demiti-lo em 2011. Tinha apenas 10 ou 11 jogos de sua volta, e aí sim, diferente de hoje, pouco tempo de fato para uma avaliação mais concreta.
Na época, o fator Ronaldo, Roberto Carlos, Libertadores, e se tornar o primeiro time a ser eliminado numa pré, pesava contra. Mas a atitude era a mais sensata a se tomar.
Tite de fato ainda não tinha tido tempo para trabalhar. Agora que passou, podemos avaliar com os jogos pós-Tolima e escrever que em seus primeiros 20 jogos nesse retorno, a única derrota foi justamente na Colômbia.
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A derrota para um Flamengo tão forte e galático não estremece seu trabalho. Apenas os mais fanáticos acreditariam numa Libertadores como a desse ano, cheia de adversidades.
E não acredito que o Corinthians de Vitor Pereira irá fracassar nas duas frentes que ainda faltam. Seria contra uma matemática pura, e até contra o que vimos do seu trabalho, pensando principalmente que na Neo Química Arena somos muito fortes, e temos ainda 2 jogos importantes por vir.
Mas, de novo, se por acaso seguir com escolhas duvidosas, ou por acaso haja pouco sangue no olho nesses jogos (não habitual também do seu trabalho), ou for eliminado de tudo, se afastar da liderança do campeonato, a classificação com o Flamengo tão próxima de tudo isso se potencializaria e entraria na conta.
E nisso, a atitude de Duílio em mantê-lo, seria totalmente na contramão de como anda o futebol brasileiro e a mais corajosa da história do clube em 111 anos.