‘’Chrys, um dia você vai ser jogador, e o papai vai registrar toda sua história’’. Essas foram as primeiras palavras que Silvio Barletta, pai do novo reforço do Corinthians disse após o acerto do jogador com o Timão.
Corinthiano de coração, o pai do jovem de 21 anos contou em entrevista exclusiva ao Canal Identidade Corinthiana, toda trajetória do seu filho, na qual foi pai, treinador e o seu maior incentivador.
Quem é Chrystian Barletta? Novo reforço do Corinthians herda paixão pai
Natural da Vila das Belezas, periferia localizada na zona sudoeste de São Paulo, Silvio Barletta conta dos seus tempos de arquibancada. Amante dos esportes, mas principalmente um louco do bando, que acompanhava os jogos do Corinthians sempre que possível, à época disputados do Morumbi e no Pacaembu.
“Eu vim da periferia de São Paulo, família humilde, Vila das Belezas, no parque Arariba, que é o final da elite e começo da periferia. Na minha infância, meu pai separou aos 14 e eu acabei cuidando da minha mãe, e a partir dai foi uma vida difícil, de morar na periferia. Contou Silvio Barletta, em entrevista exclusiva à Identidade Corinthiana.
”Então eu morava perto do Morumbi, minha paixão sempre foi esporte, sempre gostei de esporte, entendi que o esporte era uma coisa que eu podia me livrar daquilo e chegar a algum lugar, e então eu tinha uns amigos que eu era ligado e íamos no Morumbi a pé. Quando tinha jogos do Corinthians.
”Íamos para o Pacaembu a pé também, chegava lá, pedia grana pra entrar no estádio, ajudava os caras que vendiam lanches de calabresa e pernil, eles me ajudavam, falavam: Fica ai de segurança e de olho em quem sair sem pagar. Então a gente acabava indo sem dinheiro e voltava com, torcida do Corinthians não ficava pra fora, todo mundo entrava”.
Tempos depois, Silvio mudou-se para Limeira, interior de São Paulo, onde Chrystian nasceu. ”Ele nasceu em Limeira, eu sou projetista, desde pequeno, comecei a trabalhar de office boy, minha esposa morava em Limeira com a família dela”. Completou.
Quando Chrystian tinha quatro anos de idade, Silvio começou a ensinar os primeiros passos no futebol e no esporte de maneira geral, sendo seu primeiro treinador.
”Quando ele fez quatro anos eu comprei uma bola da Adidas pequena, e treinei ele, fui ver se esse moleque gostava de jogar bola, nem sabia que ele tinha o dom, Falei: ‘vou meter ele no campo, na areia’. Ai eu pequei a bolinha e saia de um lado do gol, pro outro lado, como se eu fosse um volante e ele lateral esquerdo, e eu toca pra mim e ele falava vai pai narra, e eu narrava – ‘’Vai Chrystian pra lateral-esquerda como se fosse um ponteiro, ultrapassa e toca pra área pra Barletta, dominou tocou pro Chrystian, É GOOOL!’’.
Ainda em São Paulo, Silvio levou o Chrystian para treinar no clube no Pequeninos do Jockey, e começou a treiná-lo de lateral-esquerdo, usando como referência a tática do treinador Telê Santana, ídolo do rival São Paulo, o qual teve oportunidade de observar de perto em sua fase como gandula nos treinos.
Tempos mais tarde, Silvio e sua família se mudaram para Curitiba por questões profissionais, e lá deu continuidade a formação do Chrystian como jogador. Desde treinos, em um campinho de terra na praça de Trianon, até conhecer o ex-goleiro e campeão pelo Corinthians, Jairo.
Das dificuldades à um jogador promessa
Em 2016, Chrystian começou a atuar no CT Renovicente pelo Sub-15, e ganhou uma oportunidade na base do Joinville. O pai sempre presente, fazia os scouts do Chrystian e conduzia melhor o jovem dentro do campo. ‘’Eu sempre fazia os scouts dele, e falava Chrys você pegava na bola cinco vezes, não tentou fazer um drible, não tentou um chute de longa distância, isso ai não é futebol, e ai comecei a entender que eu estava formando um atleta’’.
Neste mesmo ano, Chrystian participou de uma peneira do Grêmio onde foi aprovado nas primeiras etapas, mas por conta do seu físico franzino, acabou sendo colocado em segundo plano.
‘’O Chrys chegou lá no sábado arrebentou, fizeram quatro times. No time dele, ele deu seis assistências conseguindo empatar 1 a 1, eu liguei pra mãe dele e falei: prepara amanhã que ele encarnou o jogador, o meia que eu sempre quis, que eu treinei. Prepara tudo, preparamos a câmera. O Grêmio fez avaliação em cinco estados, e ai, eles pegaram o melhor e pegou o Chrystian. Ele foi o único a passar aqui no Paraná, mas pediram pra esperar oito ou nove meses para ele ganhar mais força física, ele era muito magrinho‘.
Entretanto, no Joinville nem tudo foram flores para Chrystian e sua família, Silvio lembra das dificuldades financeiras para manter o filho vivendo longe de casa. Como o jogador não tinha alojamento e o pai não tinha condições de pagar, ele recorreu a alguns amigos da igreja e arrecadou uma quantia, trabalhando também como motorista de aplicativo para complementar a renda.
Esse dinheiro era repassado pra uma mulher que todos a chamavam de ‘tia’ que morava próximo ao clube, e oferecia cuidados aos meninos que tinham o sonho de se tornarem jogadores, e que os pais não tinham onde deixar.
”Ele não tinha alojamento, ai foi um rebuliço, não podíamos perder a oportunidade, era um time de projeção para o profissional, ligamos aqui pra igreja e conseguimos pagar 500 reais para uma mulher olhar ele do lado do CT”
”Um moleque de 14 anos, tinha lanche e comida da tia, mais chegava às 21h ele tinha fome né. Além do meu trabalho eu comecei a fazer Uber das 19h as 1h da madrugada. Eu abri uma conta pra ele, com um cara do açaí de Curitiba e eu falava: ‘Pode dar lanche pra ele, que toda sexta eu acerto com você’, relembra Silvio emocionado.
Para finalizar, Silvio Barletta e sua esposa Débora comentaram que não devem se mudar pra São Paulo com Chrystian jogando no Corinthians, mas que estarão sempre ao lado dele, vibrando e sendo a casa dele. Mas que ele irá seguirá o seu próprio caminho, família e carreira.
‘’Hoje ele é casado, há dois anos, está esperando meu neto Noah, talvez mais pra frente, com essa ascensão pro Corinthians, todo mundo pensa que ele vai ‘’arrastar’ a família dele. Ele tem a vida dele, a esposa dele. A gente sempre acreditou ele tinha que ter a vida dele, alçar voos maiores, e somos a base dele onde estiver, até por que temos a nossa filha, hoje ela tem 12 anos, tem escola, e isso faz parte da estrutura familiar, mas ele sempre vai ter para onde voltar”. Expressou Débora Barletta.