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Tamires, do Corinthians, faz carta às mulheres: “Estamos perdendo o medo de mostrar quem somos”

Matheus Pogiolli

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Uma das principais atletas do Corinthians Feminino nos últimos anos, Tamires, em carta escrita às mulheres, abriu seu coração. O contato com a atleta foi feito pelo Globo Esporte.

Confira abaixo alguns trechos proferidos pela histórica lateral-esquerda das Brabas.

Tamires, do Corinthians, faz carta às mulheres: “Estamos perdendo o medo de mostrar quem somos”

No Dia Internacional da Mulher, Tamires, atleta de Corinthians e Seleção, comentou sobre resiliência, luta e papel como voz feminina no esporte. Veja abaixo.

Resiliência vem da força de querer mostrar e crescer, de deixar um legado para a modalidade e nas coisas que acredito. A mulher vem com esse espírito de brigar pelas causas desde nova. Quando decidi ser jogadora, foram muitas barreiras de preconceito. Acho que isso vem desde pequena quando escutava: “Você é mulher e vai jogar futebol?”. Sim, sou mulher e esse é meu sonho.

As equipes pelas quais passei me fizeram ser resiliente. Técnicos e técnicas como a Magali, que nos meus 15 ou 16 anos me desafiou muito para crescer como jogadora e pessoa. As coisas eram restritas. Jogava em campo de terra; sem chuteira adequada, a gente colocava esparadrapo. Tudo para vislumbrar um lugar na Seleção, alcançar um patamar maior.

Depois virei mãe e quis dar uma vida melhor para o meu filho. A minha resiliência como mulher vem do dia a dia. Sou uma mulher forte, mas posso ser mais. A mulher não pode perder a sua força, todos os dias temos novos desafios a serem superados.

Ouvia nos jogos: “Vá lavar uma louça”. A minha geração ouviu muito esse comentário. Temos tantas mulheres f…, feras, para não falar outra palavra. Inspiradoras. Quando engravidei, uma pessoa próxima a mim bateu na minha cabeça e disse: “Você não tem juízo?”. Não era questão de juízo, estava grávida e minha vida iria mudar, tinha que ter um suporte. Não tinha referências e sofri por não poder jogar. Foram três anos e meio sem jogar futebol.

Tem aquela frase da Marta sobre “chorar no começo para sorrir no fim”. Quando soube que estava grávida, chorei três dias seguidos. Não sabia o que estava acontecendo, tinha 21 anos. Tive que parar de jogar futebol. Hoje esse choro é o sorriso, porque o Bernardo é uma dádiva. Sou uma mulher que sorri, tenho um filho de 14 anos que me encoraja e me ensina. Eu me tornei uma referência na vida de atleta e mãe, e me orgulho por ser uma mulher, por ser uma mulher que joga futebol e por ser uma mulher que joga futebol e ainda é mãe. Foi muita coragem, muitos desafios superados. Foi tudo às mil maravilhas? Não.

Entendo que a maternidade é algo muito difícil. Como mãe, a gente se culpa o tempo todo, mesmo não tendo culpa de nada. Quando voltei, o mais difícil foi a distância do Bernardo. Chegava em casa, e ele estava dormindo. Foi difícil não participar diretamente de alguns processos, mas estava convicta em ser uma jogadora profissional de futebol.

Eu gosto de, em momentos pontuais, falar sobre como é ser mãe e mulher no futebol. No período entre o nascimento do Bernardo até ele completar dez anos foi uma pauta muito recorrente. Mas em 2019 virei a chave. Queria pautas da Tamires atleta, a Tamires jogadora de futebol. Sei que minha voz não traz voz só para as mulheres atletas, mas mulheres de todas as áreas que saem de casa para trabalhar e deixam o filho na escola integral, deixam o filho com o familiar. Quando a gente expõe e escutamos outra falando, aprendemos.

Passei por esse processo sem ter uma referência no esporte de mães atletas, mas fui vendo mulheres usarem a voz para causas importantes, causas pelas quais eu batalhava timidamente desde pequena. Vi a Alex Morgan, a Rapino e levantando as vozes. Isso acendeu a chama para ser uma voz das mulheres no Brasil, a fim de mudar o patamar do futebol feminino. Penso coletivamente, falo instintivamente. Muitas vezes, instintivamente faz as pessoas sentirem mais, porque vem do coração.

Aí veio o Corinthians, e sinto que está dando certo. Estamos perdendo o medo de nos expormos, mostrar quem somos”. Estamos aos poucos fazendo o mundo aprender a respeitar a mulher da forma que ela quer ser e agir. O respeito, independente do gênero, tem que existir. A gente sente necessidade de brigar mais, ter que ganhar algo para ser reconhecida. Como mulher, hoje é um dia simbólico.

O dia da mulher é todo dia, mas ter uma data que simboliza nossa garra e determinação dá mais força e energia para procurarmos nos valorizar mais, como a gente deve ser. Não podemos ter medo de fazer esse dia ser incrível, fazer esse dia valer à pena e trazer pautas empoderadas para todas as mulheres.