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Análise de um jogo que o Corinthians não jogou

Beatriz Maineti

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Escrever este texto provou-se, afinal, uma tarefa muito mais difícil do que eu imaginei. Entretanto, absurdamente necessária. Assistir ao jogo entre Ceará e Corinthians pelo Brasileirão 2022 foi um assalto aos olhos dos torcedores. Aliás, é preciso dizer: quase não houve jogo. O Corinthians se assentou em um gramado ruim e, por fim, assistiu ao Ceará, que encontrou espaços na comodidade corinthiana.

Corinthians joga mal, perde fora de casa e desperdiça chance de assumir liderança
Sem Vitor Pereira, Filipe Almeida assumiu o comando do Corinthians no contra o Ceará. (Foto: Agência Corinthians)

Sei que estas palavras podem parecer duras, mas é preciso colocar o dedo na ferida para que possamos entender o que houve. O Corinthians que viajou à Fortaleza em nada se assemelha ao time que enfrentou bravamente o Flamengo. Ou aquele que colou no líder do campeonato demonstrando inteligência dentro de campo. Nos lembrou aquele do início do ano, quando, portanto, era difícil assistir aos seus jogos.

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Um Corinthians irreconhecível

Sem Vitor Pereira em campo – o técnico está suspenso – o Corinthians parece ter esquecido os ensinamentos do professor. Filipe Almeida, auxiliar e parente do técnico corinthiano, porém, parecia ter esquecido anos de trabalho. Em uma formação que calaramente não funcionava, o Timão demonstrou futebol por exaustivos três minutos. Foi neste período que Roger Guedes, ao melhor estilo ponta esquerda, marcou um belíssimo gol.

Depois disso, entretanto, a solidificada defesa corinthiana parece ter entendido errado as regras do jogo: afinal, são 90 minutos de partida. O time, por outro lado, parou aos três. O Corinthians fez o gol e abriu todos os espaços possíveis dentro de campo para chamar o Ceará aos seu campo de defesa. Com volantes que não funcionavam e um meio de campo perdido entre as quatro linhas, o time alvinegro abdicou do placar.

E, convenhamos, é difícil chamar um time como o Ceará para o campo de ataque. Mais difícil ainda, porém, é fazer isso dentro da casa do adversário. Afinal, estamos falando sobre um time que, apesar da instabilidade no campeonato nacional, vem em crescente. Porém, ainda assim, não havia vencido diante de sua torcida no Brasileirão. O Corinthians, entretanto, deu espaço para que isso acontecesse.

Problemas em cima de soluções

A torcida sabe que o Timão tem sérios problemas na parte ofensiva. É por isso, aliás, que aguarda tão ansiosamente a inscrição e a estreia de Yuri Alberto no Corinthians. Porém, não entendia, até este momento, a defesa como um setor defasado. Apesar da despedida de João Victor, hoje jogador definitivo do Benfica, o time encontrava na defesa o setor mais preparado. Justamente por isso, entendia a iminente chegada de Fabían Balbuena como um reforço.

Porém, desde ontem, o corinthiano vê a presença do zagueiro como uma novidade essencial. Gil e Raul Gustavo podem não ser a dupla ideal, mas vinham performando muito bem juntos até o embate deste sábado. No jogo em questão, porém, mostraram uma desorganização fora do padrão. Perdiam-se entre si, trocavam constantemente de lado de campo e não acompanhavam seus adversários.

A marcação, inclusive, mostrou-se o grande problema do setor. Os três gols do Ceará saíram em falhas grotescas de marcação. No primeiro, Gil não acompanha o adversário e lhe oferece espaço de sobra para chutar de voleio e encobrir Donelli. Já o segundo cai na conta de Raul Gustavo, que se perdeu na grande área e portanto, mais uma vez, não ofereceu resistência ao oponente. O terceiro fica com Gil, que não confiou na velocidade do jogador cearense.

Os erros coletivos que afetaram o Corinthians

É simples, porém, vir aqui e apontar dedos. Dizer que “fulano errou”, ou “ciclano não marcou como deveria”, depois do apito final, é, como diriam os mais velhos, “mel na chupeta”. Porém, é preciso deixar claro que não há um único culpado pela derrota corinthiana, mas sim 12. Ao dizer 12 incluo, sem medo, Filipe Almeida na equação. Afinal de contas, o auxiliar demorou a mexer, não organizou o time quando podia e se perdeu na “titularidade”.

No meio campo, não houve uma única jogada criada de forma concreta. O Corinthians tropeçava na bola e nos tufos de grama que saíam do campo. Porém, mais do que qualquer coisa, o Corinthians tropeçava em si mesmo. Sem roubar a bola na linha de meio de campo, os jogadores eram obrigados a recompor a defesa com pressa. Mas nestas situações pecavam na organização – mais um dos desfalques para o jogo de ontem.

No ataque, o trio funcionou até os três minutos. Depois, apesar dos esforços, Roger Guedes não conseguiu ganhar a segunda bola e Gustavo Silva mal jogou. Este, aliás, exagerou na estratégia de “chamar faltas” diante de um árbitro que claramente não as marcaria. Já o garoto Adson, por outro lado, é de difícil avaliação. Com o golaço saído pela esquerda, o Corinthians pareceu entender que só poderia jogar por ali e mal o acionou na direita.

Erros que não podem se repetir

O Corinthians já deixou Fortaleza e o Ceará para trás. Agora, é preciso olhar para Coritiba. A rodada, até agora, foi generosa e o Timão, que poderia ter acabado em quinto, está agora em terceiro. Isto prova, aliás, que o futebol é um jogo reversível. A derrota de ontem pode não afetar friamente o Corinthians agora. Mas o futuro mostra outras probabilidades, e é preciso estar atento a elas.

Sabemos que o Corinthians, pelo futebol apresentado regularmente, deve brigar na parte de cima da tabela. Sabemos, inclusive, que o G4 é um sonho mais do que possível. Porém, seguindo a lógica pela qual se desenha o Campeonato Brasileiro de 2022, são os jogos irregulares que pesarão. Próximo do fim do primeiro turno, as colocações estão misturadas e um simples respiro pode mudar tudo.

Justamente por isso, é preciso manter o foco. Desperdiçar pontos e chances neste momento é quase suicida. Com mais atenção e regularidade, o Corinthians é um adversário digno daqueles considerados favoritos. Digo mais, com estes ingredientes, inclusive, torna-se um dos favoritos. Os reforços devem estrear e os machucados devem retornar, mas o problema é mais embaixo. É preciso abrir os olhos.

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