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Corinthians em: o futebol jogado na cabeça

Beatriz Maineti

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O jogo da última quarta-feira, 15 de junho, entre Athlético-PR e Corinthians foi emblemático. Isso porque, ao longo do jogo, os dois times desmentiram um estigma futebolístico. Ao contrário do que se pensa, o futebol não é uma bola e 11 homens. O futebol, portanto, é jogado também com a cabeça. É preciso tê-la no lugar, preparar-se para cada desafio com cuidado e, como consequência, atingir os resultados pretendidos.

Corinthians faz jogo controlado com a bola nos pés, mas se perde no destemperamento.
Adson em dividida durante o jogo entre Athlético-PR e Corinthians (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Não foi isso, porém, que o Corinthians fez ao visitar o Athlético-PR pelo Campeonato Brasileiro. Brigando pela liderança ponto a ponto com o rival, ganhar aquele jogo era de extrema importância. Reassumir a liderança da competição já seria uma boa, mas manter a disputada acirrada era mais importante ainda. Entretanto, por um destempero individual – um não, dois – o Timão perdeu dois pontos na casa do adversário.

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Corinthians: de Patinho Feio a Cinderella

O Corinthians foi ao Paraná ciente de sua responsabilidade. Os jogadores escalados como titulares entraram centrados, capazes de entender plenamente o desafio que se seguia. A mídia fala muito do rival que ocupa a ponta, pintam a equipe como “o time perfeito” por diversos motivos. Neste contexto, o Corinthians é o Patinho Feio da ponta da tabela. Há quem diga que é como “um boi em cima de uma árvore”.

Mas dizer isso é muito fácil. É como fechar os olhos para um trabalho que vem sendo realizado desde a chegada do Vitor Pereira. O Corinthians, que era, até então, um time em contrução, hoje, porém, se tornou um time mais próximo do que deve ser. Com imperfeições, claro, mas ainda assim um pouco mais preparado. Na partida de quarta-feira, teve o controle em campo, organizou seu time e soube aproveitar suas oportunidades.

Entretanto, nem tudo são flores – não na história do Corinthians. Vitor Pereira sofre com lesões constantes de seus principais jogadores, como Fagner e João Victor. Para piorar, não pôde utilizar Rafael Ramos em partidas fora de casa por questões internas. Porém, ainda assim, o Corinthians figurou na ponta do campeonato e briga de forma apertada pela liderança. Tropeços acontecem, mas o trabalho é constante. De Paatinho Feio, o Timão pode virar Cinderella.

Nos pés dos meninos – para o bem e para o mal

Vitor Pereira disse em entrevista coletiva que não saberia dizer onde o Corinthians estaria na tabela sem os “miúdos”. O jeito como o técnico português chama as joias da base pode soar estranho ao português brasileiro, mas ele está certo. Hoje, o time que sofria sem seus medalhões vê em nomes como Adson, Du Queiroz e Lucas Piton – que eu mesma já critiquei muito por aqui – seus maiores reforços.

Justamente por isso, suas presenças nas escalações corinthianas deixaram de ser surpresas e tornaram-se rotineiras. Não à toa, até a lesão de João Victor, o experiente Gil ficou no banco para dar lugar a uma zaga com menos de 23 anos. E tudo corria bem. Porém, no setor, o problema mora longe dos pés; o problema está na cabeça. Destemperado, Raul Gustavo já prejudicou o time em lances importantes. E ele tem um acompanhante cativo: Roni.

O meio campista não é titular há algum tempo, e não tem feito por merecer a posição. O torcedor, de fato, já sabe disso. Porém, ainda sente um frio na barriga quando seu número é anunciado como substituição. Contra o Athlético-PR, ele entrou no lugar do experiente Giuliano, que vinha fazendo uma excelente partida. Porém, Roni não ficou cinco minutos dentro de campo. Em confusão besta, foi expulso e deixou o campo ao som dos gritos de VP.

Pouco depois, ainda irritado pela confusão, Raul Gustavo derrubou Roque dentro da área em lance despretensioso. Não havia risco de gol. O jogador athleticano estava de costas para o gol. Era uma jogada, portanto, simples. Mas tornou-se pênalti e o gol de empate do Ahtlético. Vitor Pereira agarrou Roni após sua expulsão e disse aos berros: “tem que ter cabeça”. A falta de cabeça custou dois pontos ao Corinthians em um jogo totalmente controlado.

Roger Guedes 9, Willian 10

O esquema de jogo do Corinthians de Vitor Pereira fica mais claro a cada jogo. É preciso entender, portanto, que não há no time com um atacante de função. Isto pode, porém, ser uma situação provisória após a saída de Jô e a lesão de Júnior Moraes. O fato é, entretanto, que o Timão hoje joga sem atacante. Então, para suprir o setor defasado, Vitor Pereira tem buscado alternativas. Contra o Athlético-PR, o técnico achou uma interessante.

Se Roger Guedes não gosta de jogar centralizado e demorou a corresponder, Willian vinha aparecendo com perigo pelo meio. Assim sendo, VP colocou os dois em campo, com Roger Guedes teoricamente mais centralizado, e deu liberdade a ambos! Os dois passaram o jogo alternando posições, brincando de trocar suas linhas de passe e confundiram a defesa athleticana. Deu certo!

Há quem diga que colocar os dois para alternar em campo foi o óbvio. Eu, particularmente, discordo. Quando Roger Guedes passou a ser utilizado no meio, houve quem dissesse que este era um movimento “burro” do técnico. Porém, com Willian ajudando na velocidade, Roger Guedes tornou-se, portanto, mais efetivo! Além disso, a presença marcante do 10 na área facilita a versatilidade do agora camisa 9. O ataque, então, tornou-se mais dinâmico.

O trio de ataque se completa com Adson que, apesar da pouca idade, vem se mostrando arma poderosa. Pela direita corinthiana, o jogador gosta de quebrar as linhas formadas pela marcação adversária, e esbanja boa visão. Por diversas vezes encontra seus companheiros em boas posições e tem se tornado uma ótima peça de transição. Além disso, sua formação de meio campo o ajuda na marcação.

“Tem que ter cabeça”

Particularmente, fico intrigada pelo estilo de Vitor Pereira. Em entrevista concedida há pouco tempo, Duilio Monteiro Alves disse que ele tem tido muito trabalho. Por exemplo, ele e sua comissão, segundo Duilio, assistiram atentamente aos jogos feitos por jogadores emprestados pelo Corinthians a outros clubes. Isso foi feito para entender quem poderá ser reutilizado em seu esquema de jentidadeogo. O resultado ainda é um mistério, mas o trabalho vem sendo feito.

Mais do que isso, quando ele entrou pessoalmente em campo para defender seus jogadores contra o Boca Juniors, ele deu um recado. Para ele, não existe nada mais importante do que a “equipa”. E que bom! Ontem, quando segurou Roni em suas mãos para repreendê-lo, não fez pelas imagens; fez pelo cuidado. Ele sabe o que a torcida defende, entende o que o erro de Roni significa. Vitor Pereira busca o melhor, individual e coletivamente.

São poucos, porém, os técnicos dispostos a isso. Em anos, não me lembro de um neste estilo no Corinthians, aliás. Sua postura, entretanto, não apaga os erros cometidos pelo time em campo. E nem deveriam, diga-se de passagem. Mas deixam uma afirmação: há trabalho sendo feito. Se o Corinthians hoje é, portanto, o “boi em cima da árvore”, podemos, porém, fazer com que sua presença no topo torne-se frequente. Basta, entretanto, ter cabeça!

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