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Fomos Justos com 2019?

Bruno Dookie

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Corinthians 30 vezes Campeão Paulista e de quebra leva o TRI ...
Gol épico em Abril de dois mil e dezelove.

Já estamos em Agosto de 2020, de um ano extremamente atípico, mas já é possível tirar muitas conclusões do atual momento do clube, estudar o passado, encontrar comparações com outros anos recentes e não errar de novo daqui pra frente.

Fomos Justos com 2019?

Acompanho o Corinthians de perto há muito tempo e venho falando em resenhas entre amigos que nunca vi algo parecido como o que ocorreu em 2019. É claro que o torcedor quer sempre o time voando, jogando bem, fazendo gols, trazendo emoção e título. Mas nem tudo é tão simples assim.

Eu não gostaria de entrar naquele papo de que o “Torcedor Corinthiano moderno precisa ficar 23 anos na fila pra entender um pouco mais como as coisas funcionam no futebol, e como já funcionaram no Corinthians”. Mas é tão pertinente que temos que partir desse ponto.

E é aí que já mora uma curiosidade que bagunça a minha cabeça.

O clube tinha acabado de ser Tricampeão. Estávamos em Maio, início do Brasileirão, e já tinha gente pedindo a cabeça do Carille. O Carille Tripaulista, recorde de invencibilidade no clube, 8×1 no Palmeiras em fase que somos o primo-pobre, turno invicto de Brasileiro com mais recordes, campeão brasileiro com Kazim, Romero e Clayson. Início tão ou mais promissor de que Mano e Tite, dois queridinhos da fiel.

Repito.

Em fóruns, grupos de zap e mesas de bar, 20 dias depois do RARO feito de ser Tricampeão, já existia uma insatisfação com o futebol apresentado pelo time de Carille. Ainda tímida, mas já começava ali os primeiros suspiros. Carille iniciava um Brasileirão com uma pressão descabida de torcida e imprensa.

A eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil, em jogo fraco na Arena Corinthians, (mas ótimo no Maracanã) era mais um motivo entre os mais desesperados.

Não consigo perceber quando foi que desaprendemos a perder, ou viver períodos curtos de má fase. O Flamengo tinha um bom time, contratou muita gente, e depois da saída do Abel, todo mundo acabou vendo todo o potencial dos titulares no fim do ano. E é válido notar que no jogo da Arena, Carille já criticado, chega a ser ousado, joga com apenas um volante (Júnior Urso havia sentido e não estava 100% – começara no banco), o time joga mais aberto, e toma gol na chegada surpresa de Arão ao ataque. Justamente Sornoza, que não era pra estar ali mais recuado, não acompanha o ex-Corinthiano por não ter o cacoete de volante. Gol do Flamengo.

Interessante notar que, se você tem um estilo de trabalho que funciona pra você, mantenha daquela forma. Carille faz algo que fez pouco no apito inicial em suas duas passagens pelo Corinthians, e entra com 2 meias e 3 atacantes nesse jogo.

A gente não discorda que o time fazia alguns jogos sofríveis. Não se pode negar isso. Mas o ponto é que não se destrói um ano todo, ou uma década toda, por um ano mediano. Digo mediano, pra não dizer MUITO BOM pro elenco que tinha e pelo fator recomeço de trabalho. 2019 foi extremamente regular em resultados. Impossível negar isso. O futebol é competitivo demais, não se ganha título nacional todo ano.

Setembro de 2019:

É início Setembro e o Corinthians está no seu nono mês de 2019.

Estávamos no G4 do Brasileiro, o time já havia conquistado o Tri no estadual na Páscoa, e partia para a semifinal da Sulamericana depois de 20 anos. G4 de um Brasileiro em que Sampaoli fez um trabalho gigante, e atrás dos elencos galáticos de Flamengo e Palmeiras. Semifinal de Sulamericana jogando dois torneios de Quarta e Domingo, algo que sempre foi algo delicado na mão de alguns treinadores que se perdem rodando um elenco nota 6/7 para evitar lesões e maus resultados (o Galo concentra esforços na sula, chega na semifinal e despenca na tabela no BR). O sufoco de calendário também é devido a pausa no meio do ano para a Copa América.

G4 no Brasileiro, semifinalista depois de 20 anos de um torneio que não temos, e TRIpaulista garantido.

Nada mal, não? Para muitos torcedores, ano ruim, sim. O Corinthians consegue ter tudo isso e enfrentar o Del Valle na Arena extremamente pressionado pela vaga e título, para a temporada ser “validada”.

Se o Corinthians não ganhar, olê, olê, olá!

Embora um vice inexplicável e inesperado de Copa do Brasil, a gente vira 2018 para 2019, jogando um futebol também sofrível, que chega até a “flertar” com possibilidade razoável de rebaixamento (ai ai se o Danilo não vira aquele jogo contra o Bahia), com vários jogadores extremamente medianos, trocas excessivas de técnicos e um trabalho geral ruim.

Contratamos como podíamos e o que cabia no orçamento no clube na janela do início do ano de 2019. Inúmeros jogadores novos chegam e um elenco totalmente renovado se forma com a chegada de Andrés/Carille. O trabalho começaria a ser lapidado quase do zero mais uma vez. Todos sabem que Carille não chega para fazer a nova seleção de 1970, mas sim pra tapar buraco mais uma vez. Pega um elenco mediano mais uma vez. Vem pra salvar a pele da diretoria mais uma vez. Ter o vestiário em dia, um entregador de coletes que conhece o clube na palma da mão, sabe como imprensa, torcida e como a banda toca é muito para um clube gigante. Todos já sabem o poder de Carille em tirar leite de pedra e não é hora de trocar o certo pelo duvidoso: é o início de mais um período Andrés.

Como foi em 2009. Como foi em 2014. Como foi em 2017. E como estava sendo em 2019. O ano passado era exatamente o ano de transição para virar 2020 na fase de Grupo da Libertadores. Ter um ano regular, no famoso “o que vier é lucro”, e 2020 daríamos sequência num trabalho mais parrudo. Algo que já vinha funcionando outras vezes na fase pós-rebaixamento.

NENHUM GRANDE ELENCO SE FORMA EM 6 MESES.

E é aí que mora o que chamo de maior bizarrice que acompanho na história do clube. As 8 rodadas que o elenco parece “entregar” ou “relaxar” após a clara perda de Carille do vestiário não é mais uma dúvida, é um fato visível. Oito rodadas que praticamente culminam na tão sombria Pré-Libertadores.

Sete pontos que provavelmente teríamos se não fosse a sequencia de oito jogos sem vencer. Suficientes para ficar à frente do SPFC na tabela. A regularidade no Brasileirão até ali, embora o futebol sofrível, garantiria que esses pontos viriam mesmo e a pré seria provavelmente jogada para o colo do São Paulo, clube que ali já estava em uma fila de 7 anos sem títulos, troca-troca de treinador, pressão de torcida e má-gestão. É esse clube que fica com a nossa vaga.

Os 8 jogos são o ponto fora da curva do Brasileirão, não o resto do ano. A pressão que vem desde Maio, termina de uma vez por todas de destruir não só 2019, como para devastar já 2020. A eliminação na pré-libertadores começava na pressão desvairada em todo 2019.

O resumo desse papo se passa pela dificuldade financeira do Corinthians depois de 2015 e a chegada da Arena. Algumas peças mal contratadas e essa porrada de jogadores emprestados sempre serão um problema, mas não se pode negar que não podemos mais, por ora, ter um elenco de 2013, 2015, ou um elenco de Palmeiras e Flamengo.

E então a questão que fica é, vamos dar tempo ao Tiago em 2020? Vamos acreditar que o futebol ofensivo e bonito que se esperava do treinador, alguma hora irá vingar, mesmo faltando peças para tal? Ou era melhor ter um time cascudo que beliscava um título aqui e acolá, até as coisas melhorarem financeiramente de novo? Um time que virou rei em clássicos mesmo em momentos irregulares, que se acostumou a vencer, vencer, e vencer. Que conseguiu fazer muito pouco.

Olhem para os rivais, quem tem essa regularidade? Flamengo precisou ter um time histórico pra beliscar um Brasileirão. Palmeiras precisa de patrocínio pra voar. SP está na lama. Grêmio dançou valsa até acertar um técnico. Cruzeiro caiu. As coisas não são simples. “Troca o DNA aí e pronto!”

A verdade no fim é só uma: O Corinthians, que foi o clube que provou para todo o Brasil que ter DNA e longevidade de técnico é um diferencial monstruoso, provou do próprio veneno em 2019, e nenhum torcedor aparentemente se deu conta disso. Um passo errado hoje, e a vida cobra num futuro breve.

Vamos voltar a ser imediatistas e plantadores de crises inexistentes? Como fomos na fase “Coringão raiz véio de guerra” dos anos 90 e na Era Dualib, ou vamos abraçar a longevidade novamente, entendendo que existe um grupo de 8 a 12 clubes no Brasil que também trabalham para serem vencedores?

2020 chega pra provar que 2019 segue inexplicável e podemos pagar caro pela pressão fora de hora.

Mesmo não acreditando em sucesso do Tiago com um elenco limitado, espero que ele tenha tempo de trabalhar e mostrar o que pode entregar.

Ou senão, vamos voltar à velha manobra de todo clube brasileiro desorganizado do século XXI, com a corneta de sempre pra um trabalho que não dá certo: “falta de raça e técnico ruim”.


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