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Meio tempo de um Corinthians competitivo

Beatriz Maineti

Para o bom corinthiano, meio tempo basta. Por isso, é desnecessário dizer aos torcedores que o primeiro tempo do Corinthians no Majestoso deste domingo foi, no mínimo, desastroso. O Timão abusou dos erros de passes. caiu nas armadilhas técnicas do São Paulo e, portanto, dependeu única e exclusivamente de Cássio para evitar o pior. O que ele, com muitos méritos, fez. Porém, a atuação corinthiana deixou muito a desejar.

Corinthians joga mal no primeiro tempo, mas reage e arranca empate no Majestoso.
Cássio, em tarde inspirada no jogo entre Corinthians e São Paulo (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Em tempos normais, seria normal ao torcedor esperar outra etapa horrível do time. Mas não. A frase “em tempos normais” não leva em consideração Vitor Pereira. O português, engasgado com a atuação do time e com as insistentes derrotas em clássicos, não aceitava aquele tipo de jogo. Justamente por isso, com mudanças pontuais e bem estruturadas, levou ontem o Corinthians a outro patamar! Ontem, o Corinthians foi parcialmente competitivo.

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Os erros do primeiro tempo

Para o primeiro tempo, o Corinthians subiu com uma linha de três zagueiros que não funcionou muito bem. João Victor, esperto e ágil, comandou o trio de defesa, enquanto Raul Gustavo e Gil tentavam acompanhar o ritmo. Porém, é inegável que não conseguiram. Como já dito aqui anteriormente, o ritmo acelerado de Raul Gustavo não casa com a calmaria de Gil, e ambos sofreram para engrenar. Portanto, as jogadas do adversário eram paradas na velocidade.

Além disso, o método de jogo passou a atrasar a criação de jogadas. Seguindo o estilo de Vitor Pereira, que pede inteligência e saídas de bola precisas da defesa, Gil, Raul Gustavo e João Victor precisavam participar. Mas isso não era possível. Com pouco entrosamento, Fábio Santos precisava voltar para dar suporte e, consequentemente, perdia o tempo de ataque.

Já no meio de campo, Renato Augusto, muito marcado, pouco contar com Du Queiroz que, em noite pouco inspirada, perdeu-se entre os adversários. Maycon, então, ficou sobrecarregado com as funções de criação e marcação intensiva. Já na linha de frente, Mantuan, que é um problema persistente no ataque do Corinthians, prejudicou a marcação corinthiana e o ataque. Correu muito, errou muito e apareceu pouco quando foi necessário.

O que houve com o Corinthians de antes?

Os torcedores esperavam, naturalmente, que o Corinthians que enfrentaria um de seus grandes rivais dentro de casa entrasse em campo com fome. E isso aconteceu. Porém, houve mais fome do que jeito. O Corinthians entrou afobado, desorganizado e os jogadores se dispersaram em campo. Além disso, os erros de passe tomaram conta das jogadas do Timão, e isso culminou em uma série de contrataques para o São Paulo.

Mas houve um problema maior: a marcação. Não é a primeira vez que o Corinthians de Vitor Pereira enfrenta o São Paulo, e tudo indicava para um espelhamento tricolor em cima do esquema de VP. Por isso, o técnico apostou na força de Maycon, na precisão de Du Queiroz e na velocidade de Willian para dar vazão ao jogo. Assim, talvez fosse possível esperar um Renato Augusto mais aprofundado no ataque e um Jô mais acionado.

Porém, o tiro de VP saiu pela culatra. Willian, geralmente um grande desarmador na frente, ontem mais perdeu bolas do que as roubou. Apesar de ser responsável por grande parte das iniciações de jogadas de gol do Corinthians, ontem não foi bem. Jô ficou isolado, e Renato Augusto teve marcação dobrada em seus calcanhares. Mantuan não ajudava os companheiros e Du Queiroz foi deixado para trás. O Corinthians caiu na armadilha de Rogério Ceni.

O Corinthians, enfim, competitivo

Para o segundo tempo, Vitor Pereira entendeu que era preciso mudar. Embora suas alterações tenham vindo “tardiamente”, foram efetivas. Ele começou tirando Gil da zaga e colocando Adson para dar solidez ao ataque, e sua troca provou-se oportuna. Raul Gustavo e João Victor, na defesa, se conversaram melhor e fecharam seus espaços. No ataque, Adson ajudou a quebrar a linha de marcação, dar velocidade no ataque e cobrir os erros do primeiro tempo.

Não foi milagre. Foi inteligência. Vitor Pereira soube ler o adversário. Ao olhar para o banco de reservas tricolor, o técnico corinthiano entendeu que Rogério Ceni havia entrado com força máxima. Era necessário desconfigurar essa força quebrando sua estratégia. A entrada de Adson deu velocidade ao Corinthians e solidificou o meio campo, o que fez com que o São Paulo colocasse Patrick, Rafinha e Eder no jogo. E aí aconteceu o erro.

Patrick pouco ajudou na marcação e Rafinha foi pouco acionado – Alisson deu mais trabalho. Entretanto, o Timão abusou do meio de campo defasado, acionando Renato Augusto, Jô e Willian com mais frequência. Mais uma vez, é importante reiterar: o camisa 10 não fez um bom jogo. Porém, sua habilidade de puxar a marcação para si deu ao Corinthians mais oportunidades pelo setor. A estratégia de Vitor Pereira colocou o Corinthians de volta ao jogo.

Mudanças certeiras do Corinthians

O Corinthians não iria recuar. Era importante não perder aquele clássico, principalmente por ser o segundo do ano dentro de casa. Então, VP mudou mais uma vez. De uma vez só, trouxe Junior Moraes, Giuliano e Lucas Piton para o jogo. O atacante faria dupla com Jô pela primeira vez desde sua chegada. A dupla correspondeu. Enquanto Junior Moraes é mais móvel e se apresenta mais, Jô tem excelente posicionamento na entrada da grande área.

Juntos, os dois deram mais opções e mostraram que podem funcionar assim quando preciso. Porém, nessa leva, Lucas Piton se destacou. Não é fácil substituir um Fábio Santos em ótima fase, principalmente defensiva. Piton já havia deixado a peteca cair em outras partidas do meio de campo para trás, mas ontem não foi o caso. Soube marcar, roubar a bola com rapidez e transicionar para o ataque com leveza. Fez excelente partida.

Pouca altura, muita destreza

A jogada que origina o gol do Corinthians pode não ser um primor de futebol, mas é envolvente. Com a bola nos pés, o Corinthians tira a atenção dos adversários e ainda os faz cansar. A partir daí, foi só aproveitar os espaços. E eles, naturalmente, apareceram. Junior moraes encontra Piton com marcação frouxa e lança o companheiro pelo lado esquerdo. Piton, então, cruza de forma precisa na área.

Neste momento, porém, é curioso analisar o lance de outra perspectiva: o da presunção. Jandrei, goleiro do São Paulo, pedia atenção redobrada em Jô. Diego Costa, zagueiro adversário, já fazia sua cobertura. Um pouco mais atrás, dois jogadores do São Paulo faziam a proteção de Renato Augusto, enquanto outros dois estavam na cola de Junior Moraes e Giuliano para que ninguém pegasse o rebote.

Ninguém olhou, porém, para o jovem de 1m71cm que entrava sorrateiramente na área. Adson não invade; parece que a área pertence a ele. Sozinho, então, ele chama a atenção de Piton e se ajeita. O que o garoto não tem de altura, ele tem de habilidade. Seu pulo é certeiro. Sua cabeçada, então, nem se fala. Bem colocada, com a quantidade certa de força e uma assinatura: aquele é o Adson! Potente, forte e sagaz. Adson salvou o Majestoso.

Os destaques merecidos

As emissoras de televisão gostam de corar os “craques do jogo” a cada partida. Porém, eles são liberam um troféu por partida. Ontem, merecidamente, ele foi destinado ao Cássio. Gigante e pai de grandes defesas, principalmente no primeiro tempo, o arqueiro saiu machucado – mas saiu aplaudido! O Majestoso de maio de 2022, portanto, poderia ter sido muito diferente sem ele, e é, portanto, preciso admitir sem papas na língua.

Porém, é necessário destacar outro jogador que, inclusive, já foi muito criticado por aqui. Lucas Piton não deverá assumir as responsabilidades de Fábio Santos, mas tem se provado um aprendiz eficaz. O curioso de sua partida no Majestoso, aliás, é que seus passos são todos assinados pelo veterano da lateral esquerda, com quem parece estar aprendendo muito. Sua presença na parte defensiva, ontem, foi imprescindível no fim do jogo.

O tabu se mantém e a liderança fica com o Corinthians

O empate de ontem foi conseguido na inteligência. Vitor Pereira mexeu bem, se aproveitou das fraquezas do adversário e se mostrou competitivo. Isto, por si só, é motivo de comemoração. Porém, é preciso cautela. Um jogo de futebol possui 90 minutos, e o apagão que se deu no Corinthians ontem, portanto, não pode perdurar por 45 deles. O Corinthians precisa manter a intensidade nos dois tempos.

A vitória manteria o Corinthians na liderança do campeonato. O empate, porém, o faria apenas por meio de uma junção de resultados que favoreceria o Timão. Pois funcionou. Mas o Corinthians não é um time de “conjectura de resultados”. É preciso ganhar por si próprio, trazer a responsabilidade para as quatro linhas da partida que disputa. E isso não acontecerá, portanto, em 45 minutos. O Corinthians precisa disputar a partida inteira.

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