Se tem uma coisa que o futebol brasileiro nos acostumou mal, é nessa ideia de que é só mudar o técnico que dá para mudar o estilo do time. Às vezes dá certo porque o treinador assume uma equipe compatível com suas ideias. Porém, na maioria das vezes, o resultado mais comum é aquele em que a mudança traz uma injeção de ânimo momentânea aos jogadores, e meses depois a equipe está mudando o comando novamente.
Isso significa que o Brasil está cheio de técnicos ruins ou ultrapassados? Não necessariamente.
Se eu pego um treinador que tem uma ideia tática baseada em mobilidade e velocidade e o coloco num time em que o elenco é melhor com posse de bola e controle de jogo, é bem previsível que o time tenha desempenhos questionáveis, inconstantes, ou até ruins.
Estou escrevendo isso para passar o pano para o Tiago Nunes? Não. Acho que ele faria um trabalho melhor se tivesse um elenco mais compatível com suas ideias? Sim.
Porém, como todos sabemos, o Corinthians não tinha condições de montar um elenco com muitos nomes de destaque. E montar elencos não vem sendo o forte do clube já há algum tempo. Os títulos vencidos mesmo com um futebol nada vistoso, na maior parte do tempo, acalmaram os ânimos da maior parte da torcida.
Mas esse texto não é para atacar ou defender um ou outro técnico. O que quero apontar aqui é que não é todo técnico que chega em uma equipe e a transforma numa papadora de títulos com um futebol de encher os olhos. Para dar certo, elenco e treinador precisam ter algum bom grau de compatibilidade.
Como nossa realidade não é como na Europa, onde às vezes troca-se de técnico mas as equipe possuem diversos jogadores acima da média, as diretorias precisam avaliar ainda mais a fundo na hora de trazer alguém.
Se o clube tem dinheiro de sobra para gastar, ou está disposto a gastar o que não tem, pode-se trazer nomes como Jorge Jesus ou Sampaoli. Sampaoli, inclusive, vem sendo bastante criticado porque indica um número grande de jogadores e às vezes descarta um ou outro sem nunca ter utilizado.
É óbvio que não é todo clube que pode se dar ao luxo de fazer isso, ou mesmo nem é a alternativa mais saudável, mas uma coisa dá para observar: os técnicos que conseguem montar um elenco próximo ao que desejam acabam conseguindo fazer um bom serviço. O Santos não começou bem no ano passado, mas com uma equipe pouca coisa acima da média foi vicecampeã do Brasileiro e jogando um ótimo futebol. Se não fosse um Flamengo tão fora da curva, certamente Sampaoli teria sido campeão do Brasileirão.
O que os times brasileiros têm costume de fazer é montar um elenco e trazer um técnico. Quando há uma crise mais forte, o técnico é mandado embora e geralmente trazem outro sem adaptarem o elenco ao novo treinador. E qual é o resultado mais comum disso? Exato, o novo treinador dura pouco no cargo e repete-se o problema até que calhe de ou encontrar um técnico compatível com o elenco já formado – o que nem sempre acontece – ou então a diretoria vai fazendo negociações na medida do possível, trazendo jogadores que se adequam melhor ao estilo de jogo do treinador.
É uma conta básica. Quer mudar estilo, filosofia, etc? É um investimento de médio-longo prazo e que requer tanto dinheiro quanto sorte de contratar bons nomes, ou então ver jogadores que são apostas darem o retorno esperado.
Dá para fazer isso trocando técnico a todo momento? Dificilmente. Dá para fazer isso sem adaptar o elenco e/ou escolher melhor quem se contrata para o futebol profissional e para base? Muito improvável. Tomar decisões apressadas ajudarão o time nesse sentido? Não faria sentido acreditar numa coisa dessas.
Ter resultado é importante mas chega uma hora que, se ele não vem e o futebol apresentado não é nada agradável, a torcida terá menos paciência para aceitar isso.
O caso é que não dá para mudar as coisas de um dia para o outro e, definitivamente não tem como esperar mudanças ou melhoras sem que a diretoria saiba negociar melhor quem contrata, por quanto contrata, quem vende e por quanto vende. Apostas muito arriscadas e “oportunidades de mercado” são dois dos fatores que nos trouxeram ao cenário de hoje.
Se quer mudar de fato, o Corinthians precisa traçar um plano bem definido após a eleição. Precisará mudar a maneira de investir, de observar jogadores e trazer um técnico que ajude a montar o elenco. Foi assim que aconteceu quando o Mano chegou e, de lá para cá, tivemos pouco mais de uma década cheia de títulos.
Na ocasião, mudou-se o estilo de jogo e a comissão técnica e a diretoria se uniram para montar um elenco moldado para atender as ideias do treinador. Nos anos seguintes acabou trazendo outros técnicos que tinham a mesma ideia de jogo, na maior parte do tempo. Quando isso não aconteceu, os resultados deixaram de aparecer.
Se o clube quer fazer outra revolução, precisa saber bem o que quer e definir quais estratégias pretende usar para alcançar esse objetivo. Sem isso, provavelmente o clube seguirá oscilando até que dê sorte de encontrar técnico e elenco compatíveis, sem ter planejado algo mais concreto.
Resta saber quais serão os planos e objetivos da direção que assumirá o clube depois da eleição presidencial. Fica a torcida para que tenhamos dirigentes mais empenhados em fazer com que o Corinthians novamente seja estável, forte e, consequentemente, vitorioso.