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O “apagão” do Corinthians é um novo capítulo

Beatriz Maineti

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Antes de mais nada, o “apagão” nas redes sociais e na divulgação de notícias sobre o Sport Clube Corinthians Paulista não é censura. Não foi, não é e jamais será. Basta conhecer minimamente a história do time alvinegro para entender, em resumo, que isso iria contra toda a sua construção. A medida, tomada em meio a campanha “Futebol Sem Ódio”, é uma mensagem: é preciso ter cuidado com o que se publica.

Corinthians promove "apagão" de divulgações em campanha "Futebol Sem Ódio"
Duilio Monteiro Alves, presidente do Corinthians, acompanhando treino da equipe principal. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Contexto corinthiano

O Corinthians viveu momentos de grande tensão no último mês. Criminosos que usavam em seus perfis o termo “torcedor” do Timão ameaçaram jogadores e suas famílias. Isso tudo, primeiramente, aconteceu pelo baixo desempenho do time em jogos importantes. Afinal, o Corinthians havia vindo de derrotas importantes, uma eliminação no campeonato estadual e não tinha nenhuma vitória em clássicos. O “torcedor” entendeu isso como “justo”.

A cobrança, claro, cabia perfeitamente naquela situação. O time perdeu-se ao longo do caminho e, no que preocupava o corinthiano, não era mais o Corinthians que costumava ser. O sentimento de frustração era palpável, e não houve um só torcedor em todo o mundo que não tenha ofendido o time pela tela da televisão. Mas isso ocorreu pela tela da televisão. A partir do momento que isso extravasou para o âmbito real, foi preciso tomar precauções.

No meio disso tudo, a mídia esportiva nacional inflava os ânimos da torcida ao mesmo tempo em que aumentava seus cliques em matérias. Falava-se em “panela” para derrubar o técnico português Vitor Pereira, contratado há menos de um mês. Deram “nomes aos bois”, e colocaram grandes ídolos da história recente em cheque, dizendo que eles queriam o treinador fora por sua “intensidade nos treinamentos”. Basicamente, chamaram a todos de preguiçosos.

E foi isso o que o torcedor viu. Em campo e fora dele. Além do mais, a imprensa dizia que esse era o problema! E quem, afinal de contas, não confiaria em grandes veículos de comunicação que há muito cobriam os bastidores do time? Não se tratava de uma especulação. Não poderia! Entretanto, de onde vinham as informações? Quem as confirmava? Contudo, quem poderia afirmar que era “desleixo” do elenco?

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Conjectura midiática

Não há um único torcedor de qualquer esporte que não tenha achado, em algum momento de sua “carreira de torcida”, que a mídia ia contra seu time. É normal! Não aceita-se, acima de tudo, que paixões sejam contrariadas – no esporte e na vida! O Corinthians, resumidamente, se encaixa nessas duas categorias, e vira, na realidade, um vício. Quem é corinthiano não torce. Mais do que isso, quem é corinthiano vive o Corinthians.

A questão da mídia, entretanto, não se resume ao Timão; é algo nacional. Os cliques são maiores quando há polêmica. De que vale, afinal, uma notícia positiva se um ponto negativo gera mais borburinho? Atualmente, o jornalismo se mede pelas métricas virtuais: quantos likes, quantos compartilhamentos, quantos comentários. Portanto, a informação já não é mais o ponto central; os tweets sobre a publicação, sim.

Porém, há o que se questionar: onde, então, está a informação nisso tudo? Nas especulações? Nos nomes sussurrados por fontes que não vivem dentro do time? Nas informações escusas passadas sem confirmação? Ora, aprende-se na faculdade que jornalismo se resume a investigação. Neste caso, onde estaria, então, a investigação sobre as informações publicadas?

Ao que tudo indica, a investigação ficou parada na caixa de e-mail ou nas mensagens trocadas por aplicativos. Aquilo, em resumo, é o que se apurou da história. “Me disseram que são esses nomes, então vamos jogá-los na página”. Para uma torcida inflamada pela raiva e pela frustração, isso se torna gasolina em fogo ardente. Portanto, é como dizer: “vocês queriam alguém a quem culpar. Então, estamos dando a vocês”.

E o Corinthians com isso?

Com os ataques sofridos recentemente, o Corinthians viu uma oportunidade para impactar e causar, enfim, uma mudança radical. Na semana do primeiro derby do Campeonato Brasileiro, num momento de reconstrução do time alvinegro, o Corinthians decide não divulgar informações sobre o time. Perceba, não houveram barreiras. O Corinthians não exigiu que matérias fossem excluídas ou aplicou restrições a assuntos. O Corinthians só decidiu não divulgar.

No momento em que a mídia mais quer informações do time, o Corinthians calou-se. Calou-se por si, sim, mas também pelos outros times que, ao longo dos anos, sofreram com palavras ambíguas e parciais da mídia. Calou-se pelo bem e pelo mal. Se houver vitória no derby, não haverá “piadas do estagiário”, vídeos dos gols ou que seja. Se houver derrota, não haverão lamentações. O Corinthians calou-se.

Entendam, porém, que isso não é uma crítica a um veículo de informação específico. Neste momento, o Corinthians critica um sistema de disseminação de notícias que prioriza o ruim, o “clicável”, ao invés dos fatos. Os criminosos que proferiram ameaças aos jogadores a à diretoria serão punidos legalmente, e o Corinthians colaborou integralmente para sua identificação. Este trabalho já foi feito. Mas, falta, agora, responsabilizar a “gasolina”, como já dito.

O Corinthians, infelizmente, viveu uma situação recente que é costumeira ao futebol brasileiros. Jogadores e profissionais são hostilizados por ditos “torcedores” por resultados ruins, mas raramente são punidos. Mas, felizmente, o Corinthians decidiu se utilizar da situação para criar um precedente e, enfim, buscar soluções ativas à violência no futebol.

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