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O futebol do Corinthians na Libertadores

Beatriz Maineti

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Quem sintonizou no jogo do Corinthians ontem pela CONMEBOL Libertadores contra o Always Ready, da Bolívia, esperava outro jogo.

Imagem: Manuel Claure/Reuters
Imagem: Manuel Claure/Reuters

Os torcedores esperavam um Timão mais descansado e pronto para a partida, entrando com maior entrosamento e aproveitando as melhores habilidades de suas peças principais.

Porém, o expectador asstiu a um time apático, quase estático, e que não conseguiu fazer o jogo rodar. Mas, afinal, o que aconteceu?

Ouviu-se muito que o Corinthians precisava de “tempo” com a chegada de Vitor Pereira.

O técnico português traz consigo uma filosofia de jogo mais ofensiva, pautada no “perde/pressiona” e que se vale de jogadas trabalhadas com velocidade.

Para o torcedor, isso agrada, mas ainda é novidade – afinal de contas, o Corinthians vive de postura mais defensiva há alguns anos.

Há quem diga que o Corinthians teve este tempo após a eliminação do Campeonato Paulista, em jogo contra o São Paulo na semifinal.

Eu, particularmente, discordo. Nove dias não é tempo de construção de trabalho; é no máximo um intervalo prolongado entre um jogo e outro.

Tempo de trabalho se dá a partir da convivência dos treinamentos e da instalação de uma metodologia de atuação.

Para isso, VP ainda não teve tempo.

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Vitor Pereira quer um Corinthians ofensivo

É estranho para o corinthiano pensar em um Corinthians que se diferencie muito do que vinha sendo apresentado. Entretanto, é tentador. Esta visão é a mesma do novo treinador que, chegado no alvinegro há um mês, ainda busca uma forma de transformar o time recheado de meias em uma equipe de ataque. A torcida já teve um lapso do que isso pode significar no jogo contra a Ponte Preta, pelo Paulistão, e se viu disposta a sonhar.

Porém, ontem, na competição considerada “a mais importante” pela diretoria e pela torcida, o Timão não soube colocar isso em prática. Contra o Guarani, pelas quartas de final do Paulista, o time teve proposta ofensiva até se cansar na segunda etapa, e essa parecia uma premissa justa para um jogo disputado a três mil metros de altitude contra um time acostumado com tais características. Mas não foi esse o caso.

O Corinthians de ontem

O Corinthians foi superior no primeiro tempo e, não fosse o pênalti cometido por João Pedro, o lateral que vive sob dúvidas e que não parece agradar o professor, talvez não tivesse saído com a desvantagem para o intervalo. Mas buscou o gol. Ensaiou jogadas trabalhadas, apostou na velocidade de Willian e teve Adson como boa opção ao longo de toda a primeira etapa. O jovem teve boa atuação e até esboçou entradas perigosas na área.

Porém, no segundo tempo, Vitor Pereira sacou Adson e perdeu a opção de passe. O time diminuiu o ritmo e, com menos de um minuto, em um novo vacilo da defesa, viu o time boliviano aumentar o placar. E viu, mesmo. Assistiu enquanto o Always Ready montava sua jogada pela lateral e chegava sem impedimentos na área corinthiana. Ali, o adversário encontrou apenas uma zaga defasada e desorganizada, que pouquíssimo podia fazer.

No entanto, esperava-se que o Corinthians pudesse reagir. A torcida pedia raça e força, mas isso transpareceu apenas na frustração de Vitor Pereira na beira do gramado e nas ações explosivas de Renato Augusto, que se provou atualmente o jogador mais versátil do Timão – hora na defesa, hora no ataque, o meia foi onipresente. Mas o time precisava de outros 10 jogadores que o acompanhassem, e isso não se concretizou.

O problema é o esquema do Corinthians?

O esquema de jogo de Vitor Pereira não é estranho ao time do Corinthians. Num 4-3-3 mutável, o técnico arma o time com dois zagueiros e dois laterais que devem ter bastante movimentação ofensiva e defensiva, além de rapidez, passes certeiros e desarmes afiados. No meio de campo, faz uso de volantes e aposta num meia criativo e outro, geralmente, de grande presença de área. No ataque, quer velocidade e finalizações com três homens a frente. Nada de novo.

Mas tem parecido difícil para o Corinthians desempenhar esta função. A defesa, algo que era arma no time há tempos, tornou-se o grande pavor do torcedor, já que parece que João Vitor e Gil funcionam em marchas diferentes. O jovem jogador tem agido de forma mais precisa e apostado nas saídas de bola, enquanto o veterano tem tido dificuldade de acompanhar um ritmo mais acelerado do time e do companheiro de função.

No meio de campo, Du Queiroz, improvisado como primeiro voltante, sofre. Paulinho, então, nem se fale! Pouco se ouve o nome da grande contratação em campo. Ali, Renato Augusto é a salvação num setor onde se toca para trás, mas quase nunca para a frente. No ataque, ainda sem Junior Moraes em boas condições, o time sofre com Roger Guedes improvisado ou com a lentidão de Jô, e acaba perdendo as poucas chances que consegue criar.

O que tirar de bom do jogo?

Existem dois nomes que, na minha opinião, merecem o destaque raro da partida. Além de Renato Augusto, que sabe representar aquilo que é jogar pelo Timão, Adson e Maycon foram gratas surpresas. Embora o jovem camisa 28 não seja desconhecido da torcida, pouco foi aproveitado após sua lesão em 2021 e voltou aos olhos do torcedor com a chegada de Vitor Pereira. Ontem, fez excelente dupla com Renato e com Willian, aparecendo como opção.

Já Maycon, foi esperado ansiosamente pelo corinthiano. Desde que seu nome passou a rondar novamente os escritórios do Parque São Jorge, a torcida vibra com a possibilidade, e ontem pôde ver aquilo que tanto a encantou entre 2017 e 2018. Maycon entende o que o Corinthians representa, e sabe alinhar este fator a boa qualidade de jogo. Ontem, apesar de não ter feito um tempo completo, foi de grande ajuda na segunda metade da partida.

Se cabe a mim uma mera sugestão, a presença de ambos os jogadores no time pode ser uma boa válvula de escape em algum momento. Adson tem velocidade, bom chute e precisão de passes. Maycon tem desarmes fortes e decisivos, mas também sabe o momento de colocar a bola no chão e pensar racionalmente. São duas habilidades que, hoje, o Corinthians necessita.

E o que acontece agora?

Em suma, agora o Corinthians volta ao trabalho. Cabe ao time, junção completa de jogadores, comissão técnica, departamento médico e todos os setores de futebol, trabalhar em conjunto para mudar a chave. Porém, mais do que qualquer coisa, falta ao Corinthians jogar como o Corinthians deve jogar: com força, vontade e raça. Não se trata do que se apresenta futebolisticamente, mas sim do que se apresenta à torcida.

Agora, para o futebol, falta ouvir. Falta dar atenção aos ensinamentos de Vitor Pereira e a absorção de suas táticas. Para isso, é preciso tempo; tempo para que os jogadores se acostumem, mas principalmente tempo para que o próprio treinador encontre seu caminho de pedras amarelas – ou, no caso, pretas e brancas. Seja na Libertadores ou nos campeonatos nacionais, ainda há o tão aclamado tempo. É possível reverter.

Hoje, apenas tempo e trabalho faltam ao Corinthians. Não é fácil conceder à equipe o benefício da dúvida, principalmente após a atuação de ontem, mas é fundamental. O Corinthians está no início da execução de trabalho a longo prazo, e que, afinal, pode gerar frutos positivos. Entretanto, é preciso devolver o Corinthians ao seu lugar de destaque original.

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