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25 ANOS DO PAULISTÃO 1995

Identidade Corinthiana

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(Corinthians 2×1 Palmeiras – Ribeirão Preto, 1995)

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Extremamente engasgado com o maior rival após a perda de três recentes finais entre 93-94 (Paulistão, Rio-São Paulo e Brasileirão), o título do Paulistão de 1995 tem um gosto muito especial e com sabor de vingança para o torcedor Corinthiano.
A final seria ainda um tira-teima: ambos até ali tinham 20 títulos paulistas cada. E também uma possibilidade de quebrar o indigesto jejum de 41 anos sem vencer o Palmeiras em finais (5 Títulos perdidos nesse período). Um momento especial na história do Derby além de tudo. Bate um desconforto só de imaginar como seria sobreviver a mais uma derrota para o esquadrão alviverde, formado pela Parmalat no início dos anos 90.
Embalado pela primeira Copa do Brasil conquistada pelo clube há menos de 45 dias (e porque não pela Copinha e pelo Carnaval vencidos no início do ano), em cima do poderoso Grêmio de Felipão, (que ainda se consagraria bicampeão da libertadores naquele ano), o Corinthians voltava suas atenções para o ainda mais desejado Paulistão à época, almejando conquistar a taça que não via desde 1988, em gol épico de Viola.

Para chegar à decisão, a fiel sempre acostumada com raça e sofrimento, precisou de 89 minutos de pura tensão para bater a Portuguesa, em jogo disputado no Pacaembu. Um empate era o suficiente para praticamente garantir uma final entre Lusa x Palmeiras (já finalista garantido na outra chave).
O Corinthians precisava da vitória a todo custo, para não depender de um improvável tropeço da Lusa na última rodada do quadrangular final, contra o já eliminado União São João. (É válido destacar, Corinthians e Palmeiras, finalistas daquela edição do Paulistão, terminaram o campeonato com a marca de 38 jogos disputados, dois turnos do formato atual do Brasileirão.)

Sem o artilheiro Viola, e em tarde inspiradíssima de Paulo César, goleiro adversário, o Corinthians tentava o gol de todas as formas, que só viria em bola parada aos 44 minutos do segundo tempo. Marcelinho Carioca, aparecendo como sempre nos momentos decisivos, colocou uma bola venenosa na cabeça do volante Bernardo, para delírio de mais de 25 mil torcedores, que também presenciavam ali, um dos momentos mais inesquecíveis da história do time no Pacaembu. A vitória assegurava mais uma final contra o Palmeiras, em um curto espaço de tempo. A Lusa morria na praia mais uma vez.

A final:
Com o Morumbi e Pacaembu interditados, o palco da decisão seria o estádio Santa Cruz, em Ribeirão Preto. E se tem Derby, tem polêmica de arbitragem. O primeiro jogo foi apitado por Oscar Roberto Godoy, que há 2 anos, como bandeirinha da final do Paulista de 1993, havia se omitido após entrada criminosa de Edmundo em Paulo Sérgio, na linha lateral, bem em sua frente. Na ocasião, Godoy não interfere na jogada, que poderia até mudar a história do jogo – naquele momento o Timão já jogava com um jogador a menos, pela expulsão do zagueiro Henrique, poucos minutos antes do fatídico lance.
Devido às especulações de (mais) um “Esquema Parmalat”, a Federação Paulista optou por escalar um árbitro estrangeiro; o francês Remi Harrel apitou a segunda partida – fato até então pouco usual para o futebol brasileiro.

Nílson, carrasco do Timão naquelas finais, abriu o placar para o Palmeiras aos 11 do segundo tempo (no primeiro jogo, ele marcara o gol de empate no último lance da partida).
Se presenciava ali, o momento mais crítico do Corinthians naquela final, que pela primeira vez via o troféu nas mãos do rival. Mas alegria de porco dura pouco. Menos de cinco minutos depois, após falta sofrida por Marcelinho Carioca na entrada da área, a esperança alvinegra estava toda no próprio Pé-de-anjo. Já em 1995, Galvão Bueno podia dar o recado: “Dali pro Marcelinho é quase pênalti”. E em uma cobrança de falta perfeita, colocada com as mãos no ângulo direito de Velloso, a bola voava pela barreira e acabara entrando no único espaço possível: pouco acima da cabeça de Muller e pouco abaixo da trave.

Se eles tinham Nilson, nós tínhamos “UH Marcelinho”, autor dos cinco gols alvinegros contra o alviverde no campeonato até aquele momento. Jogo novamente empatado.
O gol dava tranquilidade à equipe Corinthiana e jogava novamente a pressão para o lado de lá. Por ter feito melhor campanha, o Corinthians jogava por um empate no tempo normal + prorrogação, regulamento da época. A cidade já começava a mudar de nome, para Ribeirão Preto e Branco. Antes da prorrogação, os Corinthianos fizeram uma corrente dentro de campo e voltaram melhor. O Palmeiras, ao contrário, pareceu ter perdido a vontade de vencer.
No primeiro tempo, ninguém marca e a tensão só aumenta. Nos 30 minutos, o Corinthians atacou mais e soube conter os palmeirenses. Estes só levaram ameaça no final do jogo, quando Silvinho salvaria um gol palmeirense em cima da linha, exatamente aos 11 minutos do segundo tempo da prorrogação (se a sorte também ajuda definir campeões, ela definitivamente estava do nosso lado nesse ano, além desse lance, digno de filme de Hollywood, e do gol de Bernardo, vale lembrar que o lateral Roberto Carlos, que faria então seus últimos jogos pelo Palmeiras, desperdiçara um pênalti no primeiro jogo da final).

O Palmeiras já mostrava desespero e o jogo se aproximava do fim. A tensão pairava na atmosfera e era nítida para qualquer espectador. Falta distante para o Corinthians, que só quer o fim do jogo. Célio Silva cobra de forma desajeitada e improvável perto do meio campo, Viola atua como pivô do único jeito que as pernas suportavam, e a bola sobra pra Tupãzinho, que com muito carinho, só rola para Elivélton. A bola encontra o ângulo de Velloso. Um gol maravilhosamente inesquecível. Uma bomba, cheia de raiva. Um chute na veia. Um gol para lavar a alma. Era o alívio. Era o gol do título. A glória vinha em forma de êxtase.
Como em 1988, quando Viola executou o Guarani em Campinas, Elivélton também tinha uma camisa por baixo para fazer o gol da vitória.
“Eu estava no banco de reservas e comentei com o Tupãzinho: Vou entrar e marcar o gol do título.” Ele me respondeu: “E eu que vou dar o passe.” E foi exatamente o que aconteceu, na prorrogação. “Eu sabia que ia marcar, tanto que entrei no jogo usando duas camisas – disse Elivélton”.
Autor do gol do título, que sofria de gagueira, ainda completou: “Quero jogar cada vez melhor e falar cada vez melhor”.

Com a vigésima primeira conquista, o título também valeu moralmente e momentaneamente a supremacia no Estado de SP. Com o passar do tempo segue até hoje. E com muito mais distância.

“Me dê a mão, me abraça
Viaja comigo pro céu.”

06 de Agosto de 1995.

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