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O Corinthians já foi o time dos clássicos

Beatriz Maineti

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Ontem, durante o primeiro derby paulista do Campeonato Brasileiro 2022, o Corinthians provou algo ao torcedor que ele mesmo tinha medo de admitir. O Corinthians, um dia, já foi o time dos clássicos. Houve um tempo, em um passado não tão distante, que o Timão era o paulista mais temido nos enfrentamentos diretos. E isso, entretanto, independia da fase na qual o time se encontrava. O Corinthians era matador.

Corinthians joga mal, perde a primeira no Campeonato Brasileiro e amarga derrota para o Palmeiras.
Paulinho em jogo pelo Corinthians. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Era. Em 2022, o retrospecto em clássicos é aterrorizante. Em resumo, dos cinco clássicos disputados no ano, entre Campeonato Paulista e Brasileiro, não somou um único ponto. Cinco jogos, cinco derrotas. Os números poucos importam. O que assusta, afinal, é a postura do time ao enfrentar um de seus rivais. Vale ressaltar: o Corinthians de ontem, definitivamente, não é mesmo time que enfrentou Deportivo Cali, Botafogo e Avaí.

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A escalação do Corinthians

Porém, no papel, os times das quatro partidas anteriores realmente pouco se assemelha àquela que entrou na Arena Barueri para o derby. Vitor Pereira traz consigo essa característica de rodízio constante. Em jogos normais, isso tem sido mais do que positivo. Afinal de contas, dá oportunidades àqueles que ficam no banco e rodagem aos jovens jogadores. Mas ontem, não era um jogo normal.

Visando a partida pela CONMEBOL Libertadores na terça-feira, contra o Boca Juniors, Vitor Pereira deixou no banco duas das principais peças do Corinthians de hoje. Renato Augusto e Willian começaram a partida no banco. Em seus lugares, entraram Paulinho e Gustavo Mantuan. Aí, anotou-se o que pode ter sido o primeiro – e mais fatal – erro do Timão na partida de ontem.

Pouco antes da partida começar, nos minutos de aquecimento, o Corinthians sofreu com outro erro – desta vez, inimaginável. Cássio foi cortado da partida por apresentar sintomas gripais. Matheus Donelli assumiria seu lugar. Seria este, então, um outro erro – o terceiro numa única noite? Difícil dizer. Afinal, Donelli é reserva de Cássio há muito tempo; conhece o time e o estilo de jogo. Não há do que culpá-lo, em suma.

Mas há o que reclamar. Ivan, goleiro recém contratado da Ponte Preta, chegou com status de “sombra” do Cássio. Participou do jogo de quarta-feira, contra a Portuguesa-RJ, pela Copa do Brasil. Parecia mais entrosado com a equipe “principal”. Por que não ele, então, a assumir a vaga do goleiro titular? Esta, talvez, sejam dúvidas a serem levadas adiante. O que importa, neste momento, é que Donelli assumiu a meta.

O craque que não foi

A verdade, entretanto, é que há pouco a se falar do jogo do Corinthians. Afinal, o time alvinegro quase não jogou. Perdeu-se em meio a marcação do Palmeiras, principalmente no seu próprio campo de ataque, e não conseguiu manter a “marcação/pressão” que Vitor Pereira tanto pede. Do meio de campo para frente, entretanto, pouco conseguiu avançar. Mais do que a marcação bem montada do adversário, o Corinthians parou nos seus erros.

No setor, Paulinho mal apareceu. E, quando o fez, pouco conseguiu criar. Com pouca mobilidade e um jogo mais lento que o normal, não pôde armar as jogadas e atrapalhou os desenvolvimentos daquelas que saiam. Mais do que isso, pecou nos próprios enganos. Enganou-se com o tempo da bola diversas vezes, perdia o companheiro de vista e dava a bola de graça ao adversário. Não combateu a marcação. Consequentemente, deixava a defesa na mão.

O ataque do Corinthians

Pela esquerda, Roger Gudes parecia tomado por um sentimento de vingança pessoal. Este sentimento deu a ele dois gols no primeiro clássico contra o Palmeiras que disputou, mas, depois disso, parece atrapalhá-lo. Ontem, recebeu poucas bolas e tinha marcação acirrada na sua cola, é verdade, mas, quando teve a oportunidade. não aproveitou. Por sua história no Palmeiras, a torcida adversária o vaiava a cada toque na bola. Será que, então, foi isso?

Não há como saber. O que se pode afirmar, entretanto, é que o ataque não funcionou. Pelo meio, Júnior Moraes, um dos poucos pontos positivos da partida, deu o sangue para fazer o time andar. Incontáveis foram as vezes que apareceu no meio de campo para receber, ou que até retornou à defesa para marcar. Seus esforços, entretanto, foram insuficientes. Seus companheiros de lado não o ajudaram.

Enquanto Guedes se perdia nos próprios sentimentos, Mantuan se perdia no próprio jogo. O “jovem” jogador não conseguiu acompanhar o ritmo dos companheiros e dificultava a armação de jogadas pela direita. Ao ser substituído por Adson, tardiamente no segundo tempo, o setor até fluiu melhor, mas já era tarde demais. Para piorar, quando isso aconteceu, já não era mais Junior Moraes que figurava no meio, mas Jô não conseguiu dar velocidade ao momento.

Ironicamente, era pela direita, entretanto, que grande parte das jogadas se iniciava. Isso passa diretamente pelo recém chegado Rafael Ramos, que, ontem titular, fez uma boa partida. Raridade na equipe que se apresentou ontem. Com velocidade e precisão, Rafael fez o que se companheiro da esquerda, Lucas Piton, não conseguia. Saiu para jogo, chamou a enfrentou a marcação, e venceu na maioria da vezes. Por ali, tinha chances, não fosse Mantuan.

A defesa corinthiana

Com uma dulpa de zaga nova em idade, o Corinthians encontrou uma saída para o setor que, até a chegada de Vitor Pereira, era seu grande problema. João Victor e Raul Gustavo fizeram ótimas partidas sob o comando do português. Ontem, não foi uma delas. Não individualmente, mas como equipe, a dupla pouco funcionou. Raul Gustavo parecia mais nervoso e deixou escapar bolas que não lhe são costumeiras. Assim, prejudicou o companheiro.

João Victor é um zagueiro seguro. Disso, a torcida, com certeza, já sabe. Mas não deve e não pode jogar sozinho. Segurar a velocidade de um time armado para o contrataque é difícil quando se está em dois; sozinho, é quase impossível. João Victor até tentou e contou com o apoio de seus laterais – principalmente Rafael Ramos – mas não foi o suficiente. João Victor precisava de Raul que, apesar do esforço, pouco entregou.

Mais do que isso, o Corinthians sofreu, mais uma vez, com o terror das bolas paradas. Aos 18 minutos do primeiro tempo, o Palmeiras abriu o placar em uma cobrança de escanteio pela direita, com um cabeceio certeiro de Gustavo Goméz. Quatro minutos depois, no mesmo canto, na mesma situação, Roni ampliou. O medo do torcedor de bolas paradas se renova a cada dia. Será que, para isso, não há solução?

A tática

Vitor Pereira, porém, parece ter um plano. Sua prioridade inegável é a partida de terça-feira. Afinal, há de se admitir, a situação do Timão no campeonato nacional é mais confortável do que na copa continental. Porém, não há desculpas. O Derby não se trata de Campeonato Brasileiro. O Derby, como muitos comentaristas salientam, é um campeonato a parte. Nele, entretanto, o Corinthians está em débito.

Que Vitor Pereira ajeitou o time, também, é inegável. Basta olhar, portanto, para a movimentação do time dentro de campo. Hoje, o Corinthians joga como um time. Porém, ontem, não entregou o mesmo que havia feito nas partidas anteriores. Faltou ao Corinthians ser o time dos clássicos, afinal. Faltou ao Vitor Pereira, portanto, entender que o Corinthians não disputa apenas os campeonatos oficiais, mas também seus rivais.

Falta. Este é o termo que melhor define a situação corinthiana hoje. Dizer que faltou empenho pode ser demais. Mas é claro que faltou ao Corinthians. Faltou habilidade. Falta – e muito! Mas a torcida acredita que o Timão possa mais, e ele, de fato, pode. Entretanto, é preciso trazer isto para os gramados. Não há mais tempo para derrotas em clássicos. Para terça-feira, a pressão é, portanto, ainda maior. Aquele, porém, será um campeonato a parte.

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