Aviso de Cookies

O Corinthians não conhece o fim do mundo

Beatriz Maineti

Updated on:

Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

A semana corinthiana foi turbulenta. Depois de uma derrota amarga, o Corinthians sofreu o baque de uma forte baixa em seu elenco. Forte, sim. O que seria, portanto, Jô para o elenco corinthiano senão um nome forte? Filho do Terrão, perdoado e novamente querido pela torcida. Jô poderia, e quase foi, um exemplo do renascimento do Espírito Corinthiano. Porém, por opção, não foi, e agora, portanto, jamais será.

Mas sua saída escancarou algo mais forte do que sua postura social: teria o Corinthians sucumbido ao mau comportamento de seus atletas? O futebol apresentado contra o Cuiabá, aliás, comprovava fortemente esta teoria. O que a torcida que fez festa na Arena Pantanal viu foi a moleza e a comodidade de quem não sabia o que era o Corinthians. Era preciso relembrar!

Naquele momento, portanto, o Corinthians já estava fadado ao fracasso em 2022. Era um “líder transitório”; aquele que, ao fim das 38 rodadas do Campeonato Brasileiro, o público nem se lembraria que havia liderado. Mas o Corinthians pode mais. Para isso, o Timão precisava do seu espírito de volta. No jogo de ontem, ele apareceu timidamente. O resultado? Uma resposta positiva do Corinthians em uma vitória por dois a zero contra o Juventude.

Veja mais notícias do Timão
Corinthians vence o Juventude e dorme líder!

Próximo jogo

O Corinthians era outro

Dentro de campo, o Corinthians parecia outro time. Os retornos de Willian e Rafael Ramos e a recolocação de Renato Augusto e Giuliano em suas posições originais deram vazão a esta afirmação. O Timão entrou mais solto, utilizando mais da velocidade pelas laterais do campo e dando liberdade a grandes nomes. O próprio Renato pôde assumir sem medo sua função de armador, enquanto Giuliano auxiliava na contenção.

Na frente, Willian mostrou que ser caçado não era, afinal, uma desculpa para o desempenho abaixo. Mesmo sendo alvo de faltas ao longo de toda a partida, mostrou poder de reação, fugiu melhor dos desarmes adversários. Além disso, foi decisivo na criação de jogadas. Ao lado dele, Adson usou seu “futebol moleque” para confundir a marcação do Juventude e apareceu com muito perigo no ataque. Tanto é que, aos dois minutos, carimbou seu gol.

Na defesa, Gil e Raul Gustavo mostraram que nem todos os problemas podem ser resolvidos facilmente. Ainda sem entrar em harmonia entre si, agiram bem individualmente, mas pecaram no coletivo. Fábio Santos, por outro lado, se mostrou o símbolo do jogo em equipe, auxiliando nos passes, na defesa e no ataque sempre que possível. O lateral, inclusive, fez valer a boa fase.

Coletivo > Individual

Se o Corinthians pecava na ausência de coletividade, hoje este pareceu ser um erro do passado. Vitor Pereira presa pelo coletivo e, portanto, monta seu esquema de jogo com base na construção conjunta de um jogo grupal. Utilizando-se de uma defesa móvel, que transita com facilidade até o círculo central, ele pede, portanto, mais passes. Apostando num meio de campo ofensivo, ele exige, então, um ataque dinâmico. Este é o estilo do português.

Ontem, portanto, Vitor Pereira pode ter provado porque insiste nesta tática. O meio de campo do Corinthians foi envolvente. Tendo o apoio de seus laterais, os jogadores de meio de campo conseguiram armar jogadas inteligentes e se valeram do individual para construir o coletivo. Renato Augusto, por exemplo, soube usar sua boa visão de campo, enquanto Du Queiroz aproveitou sua velocidade para aparecer no ataque e Giuliano foi inteligente para se infiltrar.

Mesmo nos momentos de ataque adversário, a calma do Corinthians era espantosa. Sem os temíveis chutes sem rumo, o Corinthians conseguia roubar a bola e tinha destreza para segurar a jogada. Neste sentido, as voltas de Willian ao campo de defesa foram imprescindíveis. Posso estar exagerando, mas digo consciente: o camisa 10 hoje fez sua partida mais funcional pelo Corinthians.

O que esquema que funciona

Ter um ataque veloz e habilidoso é fundamental para o esquema de jogo de Vitor Pereira. Isso faz com que o time tenha rapidez para pressionar a saída de bola, agilidade para atrasar a marcação e habilidade para atacar. O técnico português apostou hoje em nomes conhecidos: Willian, Roger Guedes e Adson. Embora o trio ainda não seja um exemplo claro de entrosamento, mostrou-se muito útil para um ataque efetivo.

Roger Guedes que não leia isso, mas ouso dizer que suas percepções de centro estão melhorando. Mais ciente de sua função, Roger pode ainda não ter marcado, mas é mais presente, prestativo e tem se disposto melhor em campo. Com a presença de Adson, joga mais solto, e arrisca idas perigosas para os corredores laterais. O garoto, aliás, sabe fazer as vezes de centroavante de um jeito muito inteligente.

No meio, Giuliano e Renato Augusto responderam a uma dúvida que toma o torcedor desde a chegada dos dois: eles podem, sim, jogar juntos. Pela primeira vez os jogadores atuaram em dupla durante grande parte do jogo, e fizeram dar certo. Renato e Giuliano, neste esquema, dão mais liberdade um ao outro e trocam de posição de forma harmônica ao longo do jogo. É interessante ver a dupla em função.

O Corinthians não é bagunca

O Corinthians tende a despertar uma postura derrotista nas pessoas. Seja nos torcedores, nos rivais ou nos comentaristas, uma vitória sempre tem data de validade e uma derrota sempre significa o fim. Se é líder, nunca é por seus méritos e é preciso esperar para ver o que os rivais farão em seguida. Se perde, é a prova de um time que agrupa em si tudo o que há de ruim, e a tendência é sempre piorar.

Mas não é assim. O Corinthians ainda não atingiu todo o seu potencial, claro. O Corinthians pode mais. Porém, isso marca, portanto, uma decadência em seu estilo de jogo? Não. O Corinthians já viveu momentos mais escuros de sua história e nunca deixou de ser Corinthians. Por quê? Devido, afinal, ao seu espírito corinthiano. E este espírito deve pairar sobre tudo o que envolve o time e sua instituição.

Não podemos, portanto, assumir o fim do mundo a qualquer turbulência. A derrota para o Cuiabá e a saída repentina de Jô não são o fim do mundo. E jamais seriam. O Corinthians não conhece o fim do mundo pois é capaz de se reerguer após cada batalha. Não é isso, afinal, que é ser corinthiano? Ter resiliência para reconhecer suas derrotas e seguir a luta?

O Corinthians não é bagunça. Uma vitória não apaga os defeitos em campo, mas uma derrota também não esconde os demais acertos. O Corinthians, enquanto instituição, é eternizado não pelas conquistas, pelos recordes, pelos vexames ou pelas perdas, mas sim pela sua torcida; por nós. Cabe a nós relembrar o que é este espírito. Ontem, vimos parte disso reaparecer em campo, e isso vem das arquibancadas. O Corinthians somos nós!

Deixe um comentário