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O Corinthians precisa usar a cabeça

Beatriz Maineti

Ao receber o Boca Juniors dentro da Neo Química Arena pelo primeiro jogo das oitavas de final da Libertadores, o Corinthians tinha uma missão. O Timão precisava vencer dentro de casa e, portanto, levar uma boa vantagem à Argentina para o jogo de volta. Porém, nem nos sonhos mais surreais dos torcedores a noite de ontem terminaria como terminou. O que aconteceu, entretanto, foi um empate amargo.

Corinthians busca resultado, mas desperdiça chances e fica no empate em com o Boca Juniors pela Libertadores
Willian em lance do jogo entre Corinthians e Boca Juniores pela CONMEBOL Libertadores. (Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians)

Amargo, sim. O que houve, portanto, foi um gosto impossível de tirar da boca, o de frustração. Afinal, o Corinthians de ontem batalhou por um resultado que não veio, e viu, sem sombra de dúvidas, seus jogadores como guerreiros. E eles, portanto, o foram! Porém, a batalha não surtiu efeito e, com muitas oportunidades perdidas, o Timão deixou o jogo aberto para a Bombonera.

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O Corinthians x Boca Juniors em campo

O Corinthians ontem foi inteligente. Dentro do seu campo, o time alvinegro soube segurar a bola, criar jogadas e, consequentemente, chegar ao gol adversário. Porém, mais uma vez, pecou naquele último toque. O que faltou ao Corinthians, portanto, foi o pé calibrado, o posicionamento oportuno e um pinguinho de sorte. As redes não balançaram – nem de um lado e nem de outro. Mas o Timão tentou!

Sem Du Queiroz, Renato Augusto e Maycon, Vitor Pereira teve mais improvisos do que certezas. Mas vamos dar crédito ao português: a fé depositada por ele em jogadores “inexperientes” tem dado resultado. Ontem, com Lucas Piton no lugar de Fábio Santos, VP apostou na velocidade. Com Mantuan no meio de campo, apostou no apoio ao ataque. Mas foi com Willian, em sua posição original, que o técnico mais acertou.

Foi uma partida incrível do camisa 10, é preciso dizer. Voltava para desarmar bem na defesa, construía bem no ataque e até arriscou suas próprias chances. Foi bem, portanto, o grande jogador. Com Giuliano e Adson, Willian forma um trio exemplar! O experiente meio campista sabe ler muito bem a jogada e parece ter ensinado ao garoto “danadinho” como fazer o mesmo. Consequentemente, as maiores chances do jogo saíram do funcionamento dos três.

Do meio para trás, há trabalho a ser feito

João Victor e Raul Gustavo são excelentes no desarme e isso é impossível de negar. Os jovens jogadores já mostraram a que vieram. Porém, há um pecado quase capital para o esquema de jogo sendo cometido no setor: a reposição de bola. Considerando que Vitor Pereira gosta de jogar com o time mais avançado e com o toque de bola mais envolvente, a defesa é fundamental. Ontem, entretanto, o time errou muito ao iniciar jogadas por ali.

Raul Gustavo, ontem mais centrado, errou pouquíssimo ao defender. Porém, quando o assunto era tirar a bola com calma do campo de defesa, parecia uma tarefa quase impossível. Não tem como, entretanto, apontar o dedo para o jogador e culpá-lo por isso. O jogo era tenso e, embora tenha se deixado levar em alguns momentos, tanto ele quanto João Victor foram precisos na defesa. Cumpriram seu papel.

Porém, é preciso trabalhar esta questão antes de viajar à Argentina na próxima semana. Para que o time funcione como as engrenagens que Vitor Pereira sonha, é preciso que todos encontrem o encaixe ideal. Com calma e paciência, aliás, é possível que os dois garotos marquem seus nomes na história ao jogar a partida decisiva. Porém, isso só será possível se fizerem como diz o “mister”: usar a cabeça!

Doutor, eu não me engano!

Willian pode ter passado a maior parte de sua carreira na Europa, mas não demorou a se adaptar ao torcedor corinthiano novamente. Afinal de contas, ele não ouvia o grito externo da torcida, porém o ouvia dentro de si. Willian, o “foguetinho”, nunca escondeu: doutor, eu não me engano, seu coração é corinthiano! E ontem, portanto, diante do Boca Juniors, ele provou o que todos nós já sabíamos.

Passava-se da metade do segundo tempo. Willian puxa a jogada da lateral, traz para o meio e procura opções de passe. Nesse meio tempo, entretanto, é derrubado. Seu braço escorrega e o seu ombro perde a posição. Ele grita, a equipe médica entra apressada e Fábio Santos começa o aquecimento. Sua saída ocasionaria, entretanto, um fechamento involuntário no time, já que ele era responsável pelas jogadas de ataque.

Era inevitável. Vitor Pereira não tinha outra opção. Era mais seguro, portanto, apostar na solidez defensiva de Fábio do que em um garoto veloz naquele momento. Mas não. Willian se levanta, franze os olhos e acena que “não”. Ele continuaria na partida. Daria o máximo até além do possível. Independente das consequências posteriores, ele estava em campo. Willian lembrou Zé Maria. Willian, ontem, foi sem dúvida aquilo que o torcedor quer: ele foi Corinthians!

Sobre o pênalti perdido, o não marcado e a torcida argentina

A bola do jogo parou nas mãos do goleiro Rossi. Não por mérito do arqueiro, porém. Roger Guedes se responsabilizou, com personalidade, por bater o pênalti sofrido por Gustavo Mantuan. Seria seu primeiro gol na Libertadores. Porém, o camisa 9 se esqueceu de algo: os argentinos são ardilosos. Em um momento breve de desatenção, deixou que eles lhe roubassem a concentração e indicou o canto da bola. Rossi, portanto, nem suou.

Mas o azar de Roger Guedes poderia ser amenizado caso o juíz e o VAR tivessem analisado com cuidado outro lance. Adson foi covardemente derrubado na área após driblar um dos defensores do Boca. Suas pernas foram trançadas e, com um toque por trás, ele cai. O VAR entendeu como “exagero”, e disse que o toque não foi forte o suficiente. Para o corinthiano, é inegável que isso traz lembranças assombrosas.

Porém, assombroso mesmo é o que segue acontecendo repetidamente em jogos do Boca Juniors no Brasil. Torcedores do time argentino sujaram as arquibancadas do Corinthians com gestos racistas e até nazistas. Um templo de respeito e luta foi imaculado pela podridão de mentes arcaicas, como já havia acontecido anteriormente. Os torcedores foram presos mas, em seguida, soltos. E a CONMEBOL? Bom, seu silêncio é tão ensurdecedor quanto o preconceito.

Anotações feitas para o Corinthians

Vamos deixar claro: o apagão que tomou conta do Boca Juniors naquele 2 a 0 pela fase de grupos da Libertadores foi um lapso. Ele não voltará a acontecer. Portanto, o Corinthians precisa contornar suas próprias expectativas para a decisão de terça-feira. Mais do que decidir a classificação para a próxima fase da Libertadores, o Corinthians deve buscar a consolidação que tanto se fala.

Ganhar, perder ou empatar será uma consequência do que for apresentado em campo. O Corinthians precisa entrar mais pronto do que entrou em casa, e precisa ser mais atencioso. A bola de futebol, portanto, pede cuidados. E o time do Corinthians sabe como tratar o artefato. Basta colocá-la no chão e, com calma e inteligência, fazer uso dela. É o básico, e o Corinthians apresentou isso em campo. Porém, precisa aprimorar.

A missão de se classificar na Bombonera não é fácil. Porém, não é impossível. Ontem o Corinthians soube ser envolvente e sofrer sem exageros, mas precisa ter mais paciência com o que está por vir. Dentro de sua casa, entretanto, o Boca Juniors é um time que nos engasga fácil. Será preciso usar mais a cabeça do que nunca, mas o Timão tem possibilidades para isso. Que venha, então, a Bombonera!

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