Acho compreensível a gana de Tiago Nunes. Se tem algo que não se pode criticar até aqui, é a vontade de fazer seu trabalho prevalecer e de fazer acontecer o jogo que acredita ser o melhor para a sua equipe. Testa, testa, testa e testa de novo. Tiago testa até demais.
E às vezes esse exagero de sede ao pote me soa como falta de tato e excesso de inexperiência em dois pontos cruciais: 1) Corinthians – 2) Profissão.
Futebol não é uma matéria exata, e a gente não pode garantir que tudo que acontece dentro das 4 linhas, seja culpa de um ou de outro. Mas futebol está sim nos detalhes e o excesso de pequenos erros podem derrubar um trabalho. Simples assim.
Me peguei pensando na fase Mano, Tite e Carille durante o segundo tempo. As alterações do Tiago foram corajosas, e eu ainda com sangue de rentranca. Não estou acostumado. São 10 anos assim, bem mais pé no chão do que outra coisa.
Todos os citados voltariam possivelmente felizes da vida do Morumbi com o 1×1 (e se não voltassem com o empate por algum motivo, teriam feito de tudo para tal depois dos 30 min do segundo tempo).
Mas eu explico melhor a essência do que provavelmente era a base da teoria do termo “empatite”.
Os três teriam feito apenas 1 alteração até os 35 do segundo tempo, tentando virar o jogo naquele banho maria, jogo cozido e tal. Poucos espaços na defesa, pouca infiltração de pontas, volantes e meias no ataque. Tentativa tímida de virar o jogo.
Aos 36 entrariam no time, Gabriel e Piton, para as saídas de Ramiro e Jô.
Liberaria um pouco o Sidcley pra fingir que é um ponta, mas a realidade era trancar o time com 2 laterais de ofício. E jogaria com 3 volantes mesmo. Duas linhas de 4 com Luan de pivô para a ultrapassagem dos “pontas” e Mosquito ainda fazendo cobertura tripla na lateral direita. Deixar cruzar bola na área? Nem pensar!
Isso era fato que seria feito pelos 3 medrosos contentes com o resultado. (Foram poucas as vezes que tomamos gol no fim pelo modo “cagalhão”. Falhava pouco – acho que a mais clássica foi na final da Copa do Brasil 2008).
Aí a torcida ia espernear, xingá-los de retranqueiros e tudo aquilo que vocês sabem. O Casagrande depois do 1×1 ia ficar com argumentos até válidos naquele jeito dele: “é inacreditável isso, o Corinthians tem time pra ir e matar o jogo, e o cara pratica o anti-jogo, meu. Assim não dá, o técnico tem que ir pra cima”.
Mas o empate seria mau resultado?
Obviamente não, dada as circunstâncias do jogo, do cenário de Tiago e do campeonato para nós.
Se tem uma grande verdade sobre o Brasileirão, é que os jogos são nivelados. Não deixar um concorrente direto fazer 3 pontos é importante. É um caminhão de importância. Não é todo ano que você é campeão fazendo 100 pontos. Nem temos elenco para tal. Isso é utopia. Todo jogo vale muito. Ainda mais depois de perder 2 pontos em casa de um time teoricamente mais fraco, como o Fortaleza, o pontinho estava lindo demais. Quantos times irão trazer 1 ponto do Morumbi em 2020?
Tiago acreditou no seu potencial e do seu elenco. Tiago fez alterações para ganhar ou tentar ganhar o jogo. Tiago acreditou que é zica, que tem que ir pra cima, que não se fica feliz com futebol resultado, que não se aceita empate na casa do rival, que tem que ganhar 100% dos jogos. Digno de aplausos. Mas o SPFC não é o Avaí. Tudo bem que Mano, Tite e Carille não diferenciavam esses jogos. Fariam o mesmo contra Grêmio, SPFC ou CSA. E é aí que entra o erro, DOS QUATRO!…(O trio resultadista por não diferenciar o CSA de um SPFC e retrancar – Tiago por não diferenciar SPFC de CSA e ir pra cima).
Do outro lado você tem um rival, que mesmo sendo freguês, ganha seus jogos em casa. Que tem qualidade, que tem trabalho, que quer os 3 pontos. O pontinho não era um prêmio de consolação. Muito longe disso.
E a pergunta final é: valeu o risco do pontinho perdido, pela vontade extrema de achar que esse elenco é uma máquina e está voando e que poderia a todo custo trazer a vitória?
Como falei antes, legal o instinto e a coragem.
Mas e a realidade?
A realidade é que não fez nada pra fechar a casinha, trouxe pressão pra casa, mais pressão, insegurança para os jogadores, ZERO ponto, torcida tá puta, é semana do aniversário, e ainda deu 3 pontos de bandeja para um rival da tabela.
Mano, Tite e Carille, teriam uma semaninha em paz, sabiam que empate não dói como derrota, e jogariam menos pressionados na próxima rodada. Além de um ponto precioso que de grão em grão, te tira do Z4.
Tiago inicia outra semana com a batata assando.
*Texto dedicado ao Caíque Guirao.