Ontem, contra o Red Bull Bragantino, pelo Campeonato Brasileiro, o Corinthians jogou ao melhor estilo Vitor Pereira. Mesmo que a marcação em cima e a troca de passes não tenham sido muito efetivas, o Timão se mostrou adaptativo. Os 90 minutos da partida contra o Massa Bruta, entretanto, poderiam ter sido muito diferentes há dois meses. Na época, quando o time alvinegro ainda buscava identidade, este seria um dos maiores desafios da sequência.
E foi, realmente. Afinal, embora tenha saído com a vitória, o Corinthians enfrentou fora de casa uma das equipes com maior crescimento das últimas temporadas. É inegável, portanto, que o Red Bull Bragantino provou-se um adversário grande. Há quem diga que não. Baterão na tecla que o Corinthians ainda não venceu, afinal, “grandes times”. Há até quem diminua a vitória sobre o Boca Juniors porque “é o pior Boca dos últimos tempos”.
Vê-se claramente que, quem o diz, não pisou no Nabi Abi Chedid desde que a aquisição do Bragantino pela Red Bull. O clima é outro. O time, focado em atingir níveis mais altos, é outro. Ainda não chegou lá, mas põe medo em muito time recheado de títulos. Ontem, entretanto, o Corinthians provou que não temia o time de branco, mas sim o respeitava. Esta é a receita para a vitória: o respeito!
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Vitor Pereira, o “transformer”
Ao abrir os sites de notícias esportivas hoje, é comum encontrar “explicações” para a liderança do Corinthians. O tropeço dos favoritos, o jogo “resultadista”, ou um time “acuado que sabe sofrer”. Destes textos, a internet está cheia! O que os autores parecem esquecer – equivocadamente ou não – é que o Timão vem em constante reconstrução. E isso, obviamente, passa pelas mãos de Vitor Pereira.
Ao ser anunciado ainda como um “interesse” da diretoria corinthiana, o experiente técnico português foi definido como “adaptivo”. Vitor Pereira é, inclusive, chamado de “transformer” em alguns dos times por onde passou. Por quê? Fácil: ele não joga com um único esquema de jogo. VP precisava de tempo para conhecer as peças que tinha à sua disposição justamente para entender quais tipos de jogo poderia praticar.
Hoje, vê-se resultado. O Corinthians entrou ontem seguindo o 4-5-1 tradicional do professor, mas mudou ao longo do jogo para se encaixar nas necessidades propostas. No fim, pouco após o gol de Renato Augusto, colocou os quatro zagueiros que tem em mãos para minar as jogadas aéreas do time da casa. Com Bruno Melo mais recuado e João Victor fazendo as vezes de lateral direito, o Timão se fechou.
Porém, ao contrário do que se esperava, o Corinthians não chamou o Bragantino para o seu campo de ataque. Recuou seus jogadores, armou um time mais defensivo e, ainda assim, pressionouo o time de Bragança para que não houvesse espaços. No fim, houveram poucos. A inteligente mexida de Vitor Pereira deu sobrevida a um time que, anteriormente, era acostumado a contentar-se com um a zero. Em um jogo como aquele, era goleada, mas o Timão pode mais.
É verdade: o Corinthians pode mais
Não se pode, entretanto, enganar o torcedor com o resultado. Apesar dos três pontos conquistados, o Corinthians não fez um bom jogo. A partida, no geral, foi desanimadora. Feia, aliás, caso alguém prefira o termo. No primeiro tempo, por exemplo, o Corinthians pouco criou. Porém, o Red Bull Bragantino fez o mesmo. Ao todo, foram apenas três finalizações em toda a primeira etapa – uma delas, apenas, do Corinthians.
Mas há males que vem para bem. Ao subir as escadarias para a volta do intervalo, o Corinthians tinha mais fogo para buscar o resultado. Afinal, aquele jogo valeria a liderança e coroaria a boa sequência do Timão. Mas quem provou, portanto, que o time de fato tinha sede de gol, foi Renato Augusto. O meia atuou como volante, se arriscou como centroavante e, no fim, apareceu como gosta: de surpresa, por fora da grande área.
Porém, o mais impressionante de sua atuação não foi sua versatilidade. Sobre ela, a torcida já está ciente. Ontem, seu gol foi o símbolo claro da raça somada a habilidade. O passe que recebe de Du Queiroz, que pegou o rebote da roubada de Willian, é longo demais. Mesmo que tenha tentado adiantar a passada, não chegaria na bola. Ele então se joga na bola e, com um carrinho, manda a bola para o fundo das redes. Ele, então, mostrou a reação do Corinthians.
É preciso falar sobre Renato Augusto
O gol marcado contra o RB Bragantino não é apenas “mais um” na conta do camisa 8 do Corinthians. Ao se jogar para a bola, Renato Augusto demonstra muito mais do que a vontade que deve estar presente no Corinthians. Afinal, apesar de importante, a vontade não ganha jogo. É preciso, portanto, ser inteligente. Ontem, Renato Augusto mostrou uma inteligência ímpar ao marcar para o Timão.
Ao receber a bola de Du Queiroz, Renato claramente busca sua jogada tradicional. Ele se posiciona, portanto, de forma a cortar para dentro e bater no ângulo. Quando ele faz isso, a torcida já se levanta em casa ou nos estádios. Mas a bola se alonga demais. Mesmo que aperte o passo e de um “pique” em direção a bola, o zagueiro já cola na sua direita e há outro pela esquerda. Ele não tem muita alternativa.
Mas nenhuma jogada é perdida. Ele olha para Cleiton que está adiantado, com o corpo virado em sua direção. O canto contrário, portanto, está vazio. É preciso força e precisão para acertar dali. Ao se jogar na bola, o camisa 8 entende perfeitamente o que precisa fazer, e acerta em cheio. Esta é a prova de sua maior habilidade futebolística: o cérebro. Renato Augusto é um gênio da bola, literalmente dos pés à cabeça.
A defesa estruturada
Um dos grandes méritos da era Vitor Pereira é, entretanto, a construção defensiva. Desde a era Tite, o Corinthians foi construído para ser um time defensivo. Os técnicos subsequentes seguiram esta premissa, até a chegada – precoce e equivocada – de Tiago Nunes. O treinador tentou mudar a postura corinthiana do dia para a noite e, no fim das contas, pagou o preço por isso. Com Vitor Pereira, a torcida temia que o mesmo pudesse acontecer.
O português joga para a frente. Aposta na solidificação do meio campo e em jogadas construídas de ataque. Porém, o que pouco se falou é que Vitor Pereira sabe como poucos organizar a linha defensiva. No Corinthians, trouxe a imaturidade de Raul Gustavo e João Victor para a titularidade e, enquanto era questionado, trabalhava o emocional dos garotos para que pudessem assumir a posição.
Nos bastidores, entretanto, mantinha Gil animado e conservado para as partidas importantes que viriam. Somou a experiência do veterano ao sangue novo de João Victor e Raul. Além deles, tem no banco Robson Bambu, que, emprestado e voltando de outra lesão, tem pouco tempo de jogo e muito a se provar. Com calma e cuidado, construiu uma linha de defesa de passes curtos, jogadas construídas e desarmes precisos.
É o início do caminho corinthiano
O Corinthians, neste momento, é líder “isolado” do Campeonato Brasileiro. Entre aspas, porque dois pontos não isolam ninguém numa competição tão competitiva quanto esta. Porém, o Timão atinge sua melhor campanha em cinco rodadas desde 2017, na conquista do hepta. Isso diz muito sobre o que vem sendo trabalhado no time. É apenas mais um passo num longo caminho, mas é inegavelmente um início promissor.
Aos comentaristas que buscam “justificativas” para esta liderança “surpreendente”, como gostam de dizer, a dificuldade mora nas palavras. A tão buscada explicação é clara. Trata-se de um trabalho respaldado pela diretoria, que conquistou o apreço da torcida e, principalmente, que mereceu a confiança dos jogadores. Hoje, sabe-se que o Vitor Pereira tem o vestiário ao seu lado, e este é o passo mais importante para conquistar qualquer avanço.
O Corinthians avança depois de muito tempo estagnado. A construção do trabalho a longo prazo começa a colher frutos bem doces neste momento. Porém, é preciso explicar: ainda há muito a ser feito. A torcida não pode, portanto, se deixar levar pelo bom momento. Comemorar, sim. Fechar os olhos para os problemas, não. O Corinthians precisa melhorar as finalizações e, principalmente, errar menos passes. Mas, agora, o caminho já foi traçado.
Ter o poder de adaptação, portanto, provou-se uma arma importante para o time corinthiano. É preciso ressaltar a verdade no que dizem os comentaristas: o Corinthians sabe sofrer quando precisa. Este estilo de partida, que permite mudanças de acordo com a proposta do adversário, dá ao Timão munição para propor, enfim, seu jogo. Jogar no erro do adversário pode parecer difícil, mas, para quem se adapta ao meio, fica mais fácil de se encontrar nos acertos.